Entender a
complexidade do sistema francês de appellations é um desafio para a grande
maioria dos enófilos. E quando se fala do Pomerol, appellation berço de lendas
como Chateau Pétrus e Lagrange, não podia ser diferente. O terroir é
extremamente variado e não existem grandes propriedades.
A
maioria dos melhores vinhos tende a vir de uma pequena área plana em torno da Igreja
central da commune de Pomerol. O solo
é composto de argila e cascalho, e à medida que se avança em direção à cidade
de Libourne, o terroir torna-se menos distinto, com uma boa quantidade de
areia.
Não
há nada no rótulo que indique a origem de um vinho e, como é comum em Bordeaux,
muitos châteaux possuem parcelas de vinhas em diferentes setores, que depois
são misturadas.
Para
complicar ainda mais, não há classificação “cru” ou “grand cru”. Todos os
vinhos trazem no rótulo a AOC Pomerol. Claro que as hierarquias não são
definitivas, já que omitem o fator humano, mas podem ser úteis indicando quais localidades
são mais conceituadas. O preço tende a ser um guia confiável, embora às vezes reflita
a escassez ou o prestígio em vez da qualidade.
Em
uma boa safra, o Pomerol oferece perfume, charme e estrutura discreta, os taninos
tendem a ser menos “musculosos” do que na vizinha St-Emilion.
De
acordo com especialistas, a safra 2010 foi muito boa, embora com muitas
peculiaridades que desafiaram o talento dos enólogos. O início do verão foi quente
e o mês de Agosto nublado e mais ameno, propiciando o amadurecimento linear das
uvas. Até o início de Setembro, elas apresentaram bons níveis de açúcar e
elevada acidez. Os produtores tiveram que aguardar a queda da acidez e da
agressividade dos taninos. E esperar foi o que eles fizeram, suportando as
noites frias que mantinham a acidez persistentemente elevada.
Quando
a colheita começou, no final de Setembro, os vinhos eram ricos em acidez e
taninos (mas não excessivamente) e tinham níveis anormalmente elevados de
açúcar. Os vinhos resultantes podem ser comparados mais com um Barossa
(Austrália) do que um Bordeaux, e os níveis de álcool de 15% ou acima são comuns.
No entanto, os baixos níveis de pH significam que os vinhos mantiveram a sua vitalidade
e até um certo frescor. Eles não são tão voluptuosos quanto os da excepcional
safra de 2009, mas os melhores são realmente emocionantes.
A qualidade
A
qualidade está longe de ser uniforme. Nunca é no Pomerol, devido ao terroir
variado e a alguns produtores que se contentam em produzir vinhos medíocres, na
esperança de que a brilhante reputação da região como um todo possa também
valorizá-los para o mercado.
Ao
mesmo tempo, tem havido um crescimento em termos de sofisticação e qualidade em
distritos menores da appellation,
onde até mesmo os produtores que possuem um terroir não muito bom ainda se
esforçam para fazer vinhos equilibrados e agradáveis a um preço justo.
Os
produtores não viram razão para baixar os preços das garrafas da safra de 2010.
A safra de 2010 foi diferente da de 2009, mas de modo algum inferior, e muitos
consumidores irão preferir sua estrutura e inquestionável capacidade de
envelhecimento. Esta safra é para guardar na adega, pelo menos os tops.
Os
grandes vinhos do Pomerol nunca são baratos: a produção é muito pequena. Mas
muitas propriedades menos conhecidas ainda produzem excelentes vinhos a um
preço mais do que razoável. Mas seja paciente: com mais idade, a ainda jovem
safra de 2010 vai começar a exibir a sensualidade trufada de um Pomerol maduro.
Saiba mais sobre as
safras
2012
- Safra marcada pela grande quantidade de chuvas e doenças. Boa, mas os vinhos
são para consumo imediato. Escolha com cuidado.
2011
- Ano difícil. A maturação das uvas foi precoce. Tanto a Cabernet Franc quanto
a Merlot foram boas. Vinhos de qualidade desigual.
2010
– A safra produziu vinhos super-maduros, mas equilibrados pela acidez fina e
boa estrutura tânica. Vinhos de longa vida.
2009
- Vinhos opulentos e maduros, com baixa acidez. Proporcionarão grande prazer no
médio prazo, embora os melhores vinhos envelhecerão bem.
2008
– O verão foi fresco e seco, atrasando a maturação, mas os vinhos mostram frescor,
elegância e equilíbrio. Provavelmente subestimada.
2007
– Vinhos para serem bebidos jovens, estão bons agora, mas sem a maturidade e
estrutura de uma grande vintage.
2006
– O mês de Setembro foi quente e proporcionou o amadurecimento rápido da uva. A
qualidade dos vinhos foi uma grata surpresa. Vale a pena procurar por rótulos
desta safra.
2005
- O verão foi seco mas não tórrido. Os vinhos são soberbos. Foi um ano precoce,
mas os estilos variam de acordo com as datas da colheita: fresco e elegante, ou
rico e estruturado.
Dados sobre a AOC Pomerol
Status
da appellation: desde 1936
Superfície
plantada: 813ha
Produtores
declarados: 138
Castas
cultivadas: aproximadamente 70% Merlot, 25% Cabernet Franc e 5% Cabernet
Sauvignon
Média
anual de produção: 4,3 milhões de garrafas.
A
revista Decanter realizou uma
degustação de 83 rótulos de Pomerol 2010. Foram selecionados vinhos de
produtores renomados e desconhecidos, grandes e pequenos e de diversas faixas de
preços.
Os
resultados foram: 3 excelentes, 14 altamente recomendados, 63 recomendados e 3
razoáveis.
Listamos
aqui os 3 excelentes e os 14 altamente recomendados. Se você se deparar com
qualquer um destes rótulos, considere seriamente comprá-lo!!!
Excelentes
Château
La Truffe
Clos
Vieux Taillefer
Altamente
recomendados
Château Nénin
Château Vray Croix de
Gay
Château Franc-Maillet
Château Guillot
Clauzel
Château Le Bon
Pasteur
Clos
du Clocher
Este
post é tradução livre da matéria escrita por Stephen Brook na edição
de Dezembro de 2013 da Decanter.
Material
consultado para este post
Vinhos
Franceses – Robert Joseph
Larousse
do Vinho
The Wine Bible - Karen MacNell
Matéria muito interessante sobre esta região francesa que produz alguns dos grandes vinhos do mundo.
ResponderExcluirBastante útil as informações sobre as safras. É um dos fatores que podem ser decisivos na compra de alguma garrafa de vinho.