Sauternes é a appellation
francesa lendária pelos sublimes vinhos de sobremesa. Nenhum vinho branco doce
chega perto de alcançar o prestígio dessa região de Bordeaux, do qual o
produtor mais famoso é o Château d’Yquem.
Em
Sauternes, nos morros próximos ao rio Ciron forma-se uma névoa que auxilia na
ocorrência das condições perfeitas para que ocorra a podridão nobre (o ataque
do Botrytis) e permita a produção de
vinhos soberbos.
No
entanto, da mesma forma que ocorre para toda denominação de origem, ostentar Sauternes
no rótulo não é garantia de qualidade. Os melhores vinhos que dão fama à região
provêm de vinhedos especialmente bem cuidados e de produtores bastante
empenhados.
A
qualidade da safra também é determinante para o sucesso dos vinhos. Os
especialistas da revista inglesa Decanter conduziram um amplo estudo sobre as
safras mais recentemente lançadas no mercado, 2009 e 2010. De acordo com grande
parte da mídia especializada, 2009 está sendo considerada uma das melhores
safras de todos os tempos para Sauternes. Os especialistas da Decantar vão um pouco
além, e afirmam que 2010 foi igualmente excelente, mas muito diferente, por
isso dependendo da sua preferência por opulência ou elegância, há algo para
todos os gostos.
Uma grande safra para os tintos em Bordeaux não é necessariamente excelente para Sauternes, mas em 2009, foi definitivamente o caso. O calor do verão elevou as uvas à maturação completa, e em meados de Setembro faltava apenas a manifestação da podridão nobre. A chuva prontamente caiu e a propagação do botrytis foi rápida. A colheita foi rápida, e o único problema foi o excesso de açúcar. Teores elevados de açúcar poderiam resultar tanto em vinhos com elevada graduação alcoólica, ou em vinhos com teor alcoólico normal, mas com preocupante elevado teor de açúcar residual (resultando em vinhos pesados e enjoativos). No evento, os produtores foram capazes de misturar lotes diferentes, mantendo, assim, frescor e acidez considerável em vinhos que, no entanto, foram muito doces.
Já
em 2010, a chuva caiu um pouco mais tarde, no final de Setembro, e houve focos
de botrytis ao longo de Outubro. A
disseminação da podridão nobre foi mais lenta visto que as temperaturas foram
mais frias. As noites também foram mais frias, e isto em particular preservou a
acidez nas uvas. Os níveis de maturação eram quase tão altos quanto em 2009, enquanto
os de acidez foram maiores, dando aos vinhos maior vivacidade e intensidade. Tal
como em 2009, os rendimentos foram muito generosos - uma dádiva divina em uma
região onde os rendimentos podem ser arduamente limitados.
Barsac
difere dos outros municípios da região, uma vez que é mais plana e tem mais
calcário e consideravelmente menos argila no solo. Isso geralmente resulta em
vinhos de maior requinte e menos potência do que os de Sauternes, mas isso é
uma diferença de estilo e estrutura, não de qualidade.
Qual
safra você prefere é uma questão de gosto. Se opulência e riqueza são
fundamentais, então 2009 pode dar mais prazer. Se a intensidade e elegância
importam mais, então 2010 vai caber na conta. A safra de 2009 é certamente a
que agradará a todos. Alguém poderia supor que 2009 amadurecerá mais rápido do
que 2010, mas de maneira nenhuma isso está correto. Ambas devem envelhecer
muito bem, e haverá alguns vinhos que estarão ainda vivos no meio deste século.
Consistentemente alta
qualidade
Aqueles
que tem longa memória de Sauternes irão testemunhar a imensa melhora na
qualidade nas últimas décadas. Em 1960 e 1970, havia apenas alguns vinhos de
excelente qualidade, enquanto grande parte era simplesmente terrível. Os vinhos
de baixa qualidade praticamente desapareceram: entre os produtores
classificados em Sauternes os de baixa reputação podem ser contados nos dedos
de uma mão.
Há
sempre uma tentação em querer encurtar o caminho em Sauternes: os baixos
rendimentos (metade de um quarto para os vinhos tintos) e a necessidade de
colheitas repetidas para selecionar apenas uvas que foram atacadas pela
podridão nobre, significa que os custos de produção são enormes e que raramente
são recompensados pelo mercado. Ainda assim, hoje não há qualquer evidência de que
a a colheita e a vinificação estejam sendo malfeitas. A grande maioria dos produtores
classificados, e algumas propriedades não classificadas, também estão consistentemente
fazendo vinhos de altíssima qualidade.
É
uma pena que tão poucas pessoas estejam comprando. A qualidade não é o problema,
mas os consumidores ainda estão intrigados sobre quando e como um Sauternes
deve ser bebido. Os produtores estão tentando corajosamente promover os vinhos
como ideais para acompanhar comida asiática, mas, francamente, é um exagero,
especialmente com os níveis de açúcar residual acima de 150 gramas/litro. Sim,
os vinhos são perfeitos com foie gras
ou Roquefort, mas com que frequência as pessoas comem isso? Sauternes permanece
muito mais um nicho de mercado, embora muitos consumidores simplesmente os
descartem por serem vinhos doces e considerados por muitos como fora de moda.
As
propriedades de Sauternes não têm se ajudado, promovendo de forma tímida os
seus vinhos. Eles provavelmente gastam muito dinheiro produzindo os vinhos e há
pouco sobrando para campanhas promocionais efetivas. Mas eles merecem ser
melhor conhecidos e apreciados. Com algumas exceções, eles não são caros e vão durar
por décadas. E a qualidade nunca foi tão boa quanto agora.
Saiba mais sobre as
safras
2012
– Não recomendada. Alguns Châteaus top decidiram não engarrafar o vinho.
2011
– Safra magnífica, com fruta muito concentrada e equilibrada pela boa acidez.
2010
– Pura e ousada, a intensidade sobrepõe a opulência.
2009
– O verão foi quente mas o resultado foram vinhos grandiosos e encorpados,
voluptuosos, mas não fora de equilíbrio.
2008
– Um outono difícil, com baixos rendimentos, provavelmente subestimada. Não está
ao nível da safra de 2007.
2007
– A colheita foi prolongada, mas os vinhos são de alta qualidade, apesar de sua
longevidade ser questionada.
2006
– Um ano leve, com baixos rendimentos e elevada acidez.
Dados sobre Sauternes
Há
5 comunas (Sauternes, Barsac, Fargues, Preignac and Bommes), e Barsac tem o
direito de rotular os vinhos com o nome Barsac ou Sauternes.
Total
de hectares em produção:
Sauternes:
em torno de 2.200ha
Barsac:
em torno de 660ha
Rendimento
máximo: 25hl/ha
Graduação
mínima de álcool: 13%
A
revista Decanter realizou uma
degustação de 39 rótulos de Sauternes das safras de 2009 e 2010.
Os
resultados foram: 2 excelentes, 23 altamente recomendados, 13 recomendados e 1
defeituoso.
Listamos
aqui os 2 excelentes e os 23 altamente recomendados. Se você se deparar com
qualquer um destes rótulos, considere seriamente comprá-lo!!!
Excelentes
Altamente
recomendados
Château Sigalas
Rabaud, Sauternes 1CC 2009
Château Sigalas
Rabaud, Sauternes 1CC 2010
Este
post é tradução livre da matéria escrita por Stephen Brook na edição de Janeiro de 2014 da
Decanter.
Material consultado para este post:
Vinhos Franceses – Robert Joseph
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