Idas e Vinhas na Estrada... Itália 2015: Vinícola Biodinâmica Cosimo Maria Masini – 28/08




A vinícola Cosimo Maria Masini fica nas colinas de San Miniato, uma antiga vila medieval no coração da Toscana, na província de Pisa, ao longo do percurso da Via Francigena, terra do vinho e da trufa branca (il pregiato tuber magnatum).


Idas e Vinhas
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Entrada da vinícola

Nessa temporada na Toscana, fui em companhia dos Enocuriosos (casal amigo, que colaboram com suas experiências no Idas e Vinhas). A Cosimo Maria Masini foi a primeira vinícola visitada. Assim que chegamos fomos atendidos por Nicoletta Lombardi, responsável pelos clientes e pela loja da vinícola. Nos apresentamos e em seguida o enólogo Francesco de Filippis juntou-se ao grupo. Francesco nos contou a história da vinícola e esclareceu sobre a produção de vinhos orgânicos e biodinâmicos. Salientou que embora estejam “na moda”, são formas já tradicionais de cultivo, que infelizmente vêm sendo utilizadas por alguns apenas como forma de autopromoção.

Idas e Vinhas
Antiga mansão
A propriedade é muito bonita, possui uma antiga mansão que pertenceu à família Bonaparte e foi adquirida em meados do século XIX pelo Marquês Cosimo Ridolfi, fundador da Faculdade de Agricultura e responsável por implantar técnicas inovadoras de manejo orgânico dos vinhedos.

No ano de 2000 a família Masini adquiriu a vinícola de 40 hectares e logo em seguida começaram os estudos para implementar o cultivo das videiras utilizando as técnicas e preceitos da biodinâmica. Em 2007 recebeu a certificação pela Demeter.

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Vinhedos

Dos 40ha, 14,5ha são cultivados com vinhedos sendo: 6ha de Sangiovese, 3ha de Cabernet Sauvignon, 1ha de Cabernet Franc, 2ha de Chardonnay e Sauvignon Blanc, 2ha de castas locais (Bonamico é uma delas) e 0,5ha de Trebbiano e Malvasia para a elaboração do Orange Wine. Os vinhedos mais antigos possuem 50 anos e a média dos demais fica entre 15 e 20 anos.

Francesco de Filippis é o enólogo responsável pela condução dos vinhedos aplicando as técnicas biodinâmicas e pela elaboração dos 7 rótulos da vinícola. Que produz apenas 40 mil garrafas anualmente.

Para Francesco a biodinâmica aplicada aos vinhedos propicia a maturação uniforme das uvas e a preservação das características particulares de cada casta, uma vez que são livres de produtos químicos e/ou sintéticos.

A forma como os vinhos são elaborados é bastante rústica. As uvas são colhidas manualmente, desengaçadas e colocadas nos tanques para fermentar sem adição de leveduras, enzimas e/ou outro produto químico. Também não há correções enológicas (acidez, taninos, álcool...) e os vinhos não são clarificados nem filtrados. Apenas adiciona-se uma pequena quantidade de SO2 ao vinho antes do envase, para evitar a degradação precoce. Os vinhos mais simples são fermentados em tanques de concreto e os demais em tanques de carvalho com capacidade de 10 hectolitros. Segundo Francesco, ele não segue um protocolo de produção para criar um padrão em seus vinhos: “Obedecemos o ciclo da natureza, pois as condições climáticas nunca são as mesmas durante os anos.”
 
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Cofermentação
Outro ponto interessante na elaboração dos vinhos da Cosimo que a difere das demais é que Francesco aplica a cofermentação, técnica que consiste na fermentação de duas ou mais castas ao mesmo tempo, em um mesmo recipiente. Segundo Francesco, essa técnica ressalta os aromas frutados e florais da uva, e intensifica a sua cor. Para aplicá-la o enólogo tem que conhecer muito bem os seus vinhedos e as necessidades específicas de cada casta pois, só para exemplificar, cada uma tem período de maturação diferente.

Elaboração do Vinsanto
Nunca havia presenciado a elaboração do Vinsanto e foi uma experiência muito interessante.

Francesco mostrou a sala onde as uvas Trebbiano e Malvasia ficam em “Vinsantaia” – termo criado por ele e que consiste no processo desidratação das uvas após os cachos passarem durante 4 meses pendurados por ganchos em uma sala bem ventilada. Depois os frutos são suavemente prensados, originando um mosto altamente concentrado em açúcares, acidez, aromas e sabores. Este mosto é transferido para barricas de carvalho com capacidade para 100 litros onde fermentam naturalmente por um período de 5 anos.
 
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A "Vinsantaia"
Após a visita à adega chegou a hora de provar os vinhos, os quais foram perfeitamente harmonizados com os maravilhosos embutidos italianos e queijos, finalizando com um belo prato de massa elaborado pela Nicoletta, tudo isso ao ar livre, muito próximo dos vinhedos. Cenário perfeito!

A conversa, os vinhos e os pratos estavam tão bons que eu me esqueci completamente de tirar fotos... desculpem! Mas o vinho é isso mesmo, nos proporciona momentos únicos e inesquecíveis, às vezes de completo enlevo.
 
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Daphné, Sincero, Cosimo e Fedardo
Os vinhos degustados foram:
Daphné (100% Trebbiano Toscano), o vinho fica em contato com as lias (sur lies) em barris de carvalho novo com capacidade para 500 litros.

Orange wine diferente dos que conheço. Com a proposta de ser mais leve pois fica menos tempo em contato com as cascas e consequentemente sentem-se menos os taninos que elas transmitem ao vinho.

Com aromas cítricos de toranja, melão e notas de mel. Em boca mostrou excelente acidez, bom corpo, com sabor de pêssego, mel e especiarias. Final longo e levemente tostado. Vale a pena provar!!!

Sincero (85% Sangiovese e 15% de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc), 6 meses em carvalho

Vinho de entrada da vinícola, fermentado em tanques de cimento. Muito frutado no nariz (morangos, amoras, cerejas). Em boca é de médio corpo, taninos macios e boa acidez. Também frutado em boca com final levemente adocicado. Muito bom para o dia a dia.

Cosimo 2013 (90% Sangiovese e 10% Bonamico), 24 meses em carvalho
A casta Bonamico é autóctone da Itália e foi muito cultivada na Toscana até 1960. Hoje existe não mais de 100 hectares plantados. Casta de maturação tardia que produz altos rendimentos, vinhos com médio corpo, pouco álcool e alta acidez e muitas vezes com taninos rústicos.

Destaque para os aromas de frutas vermelhas maduras, taninos aveludados, médio corpo, boa acidez, leve toque de tostado, com final longo e adocicado.

Fedardo 2007 (90% Trebbiano e 10% Malvasia Bianca), vinhedos com mais de 50 anos. 5 anos fermentando e macerando em barris de carvalho de 100 litros

Com belos aromas de passas, ameixa seca, avelãs, amêndoas, canela, flor e casca de laranja. Em boca é untuoso, com acidez viva, complexo, final muito longo e tostado.
Belíssimo vinho!

Foi um belo início para a série de visitas. O próximo destino... Vignamaggio!

Francesco, Nicolleta e Alexandre

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