A rolha e o vinho



Rolhas - Idas e vinhas
Nossa coleção de rolhas
A forma como compramos hoje o vinho, em garrafas padronizadas de proveniência conhecida, é reflexo de uma longa evolução tecnológica e um fato relativamente recente na nossa história.


Vaso grego. Créditos: www.adegavinhos.com.br
Vaso grego para serviço do vinho
 Na antiguidade, o vinho era armazenado em odres de couro, barro e cerâmica. Para que não estragassem rapidamente, eram adicionados conservantes como a resina de pinho (podemos imaginar que o resultado não fosse dos mais agradáveis...), e um costume da época era diluir a bebida em água e temperar com especiarias e mel.

Já na idade média a utilização de barris de madeira se difundiu para a conservação do vinho, facilitando o transporte e o comércio. O vinho era então servido diretamente dos barris, e garrafas e outros recipientes utilizados apenas para facilitar o serviço, não para armazenar.

Apenas no final do século XVII as garrafas de vidro começaram a ser fabricadas em série, modificando para sempre a história do vinho. Algumas das grandes casas produtoras que conhecemos hoje surgiram nessa época, trazendo identidade própria a seus vinhos, pois era bastante comum o comércio feito por casas de comércio, que misturavam os vinhos de diferentes safras e produtores antes de vendê-lo.

Sobreiro. Crédito: http://pt-br.facebook.com/sobreiroportugal
Sobreiro
E foi assim que pelo menos até a década de 90 do século XX o casamento entre garrafa de vidro e rolha de cortiça foi considerado ideal. Ainda hoje a rolha de cortiça é a preferida e mais utilizada em todo o mundo em função da flexibilidade, capacidader de retomar o formato original após ser comprimida para passar pelo gargalo e propriedades isolante e impermeabilizante. A cortiça é extraída do Sobreiro, árvore típica de Portugal, que responde por 50 a 80% da produção mundial. Um fato curioso é que uma simples rolha que acaba de ser colocada em um vinho da última safra tem pelo menos 43 anos de idade!! Isso porque só após esse tempo é possível extrair uma camada de cortiça apropriada. E depois disso, é possível produzir mais cortiça para rolhas apenas a cada 9 anos! O sobreiro é tão importante para a economia de Portugal que tem até página no Facebook (veja aqui) e um blog (veja aqui).

Tipos de rolha
Da esquerda para direita: Screw cap / Cortiça para champagne / Cortiça / Sintética / Aglomerada
Por questões ecológicas e para evitar o indesejável efeito bouchonée causado nos vinhos por rolhas de cortiça contaminadas pelo fungo armillaria mellea, os fabricantes vêm buscando novas opções.

Uma das alternativas são as rolhas sintéticas. Sua limitação é que se tornam inadequadas para vinhos de guarda, pois aderem ao vidro após algum tempo, dificultando sua retirada.

A alternativa mais promissora são as screw caps, ou tampas de rosca. Suas principais qualidades são a praticidade, baixo custo e ótima proteção quanto à deterioração do vinho. Embora mais largamente empregadas em garrafas de 375 mL e 187 mL e vinhos mais simples, as screw caps vêm sendo utilizadas por excelentes produtores também em seus primeiros vinhos. O movimento iniciou no Novo mundo (Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos, Chile) e agora é possível encontrar as screw caps também em Chablis e Bordeaux. 

Pessoalmente, nós aqui do “Idas e vinhas...” temos experimentado ótimos vinhos tampados com rolhas sintéticas (destaque para o californiano Robert Mondavi”) e screw caps (do Matua Valley na Nova Zelândia).

Mas uma coisa é certa, o ritual de abrir uma garrafa de vinho com a tradicional rolha de cortiça é bem mais charmoso do que simplesmente torcer uma screw cap, ainda mais agora que sabemos que cada rolha tem uma história de pelo menos 43 anos...

Assista aqui um vídeo em que dois especialistas degustam duas garrafas do mesmo vinho, com a mesma idade (4 anos), uma delas com rolha tradicional e outra com screw cap. Escolheram um vinho de quatro anos porque antes disso dificilmente se notaria alguma diferença. Eles ressaltam que o vinho com rolha de cortiça apresenta maior evolução e suavidade, enquanto o com a screw cap permanece com aromas bastante distintos, sugerindo que pode ser guardado por longo tempo.

Qual a opinião de vocês?


Para saber mais:

Comentários

  1. Ana, você sabe a explicação química do fenômeno usado por Cristo em uma parábola, de que o vinho novo arrebenta odres velhos? Beijos mil!

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    1. Oi Ana!
      Bem, uma explicação poderia ser: um odre (recipiente de couro) velho já perdeu a elasticidade, pois com o repetido contato com o vinho já passou por diversas reações químicas que refletiram em sua estrutura (transferência de taninos, ressecamentos, etc.). Dessa forma, está mais rígido e frágil. Naquela época os processos de vinificação não eram tão controlados, e o vinho novo continuava a fermentar dentro do odre. A liberação dos gases da fermentação elevam a pressão interna a ponto de romper o odre.

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  2. Ainda gosto mais da rolha. Pena que a cortiça esteja em extinção!!!

    Parabéns pelo Blog!!!

    Bjs

    Ale Baroni

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    1. Olá Alessandra! Eu e Alexandre gostamos da rolha justamente pelo ritual de abrir, a tensão de retirar a rolha sem quebrar, a expectativa do aroma (torcendo para aquele vinho caro não estar estragado), é mais romântico... Mas creio que ainda teremos muitos anos de rolha de cortiça pela frente.

      Gostou do post sobre o Chile?
      Beijos!

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  3. Oi Ana!
    Bem, uma explicação poderia ser: um odre (recipiente de couro) velho já perdeu a elasticidade, pois com o repetido contato com o vinho já passou por diversas reações químicas que refletiram em sua estrutura (transferência de taninos, ressecamentos, etc.). Dessa forma, está mais rígido e frágil. Naquela época os processos de vinificação não eram tão controlados, e o vinho novo continuava a fermentar dentro do odre. A liberação dos gases da fermentação elevam a pressão interna a ponto de romper o odre.

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  4. Olá! Às vezes me sinto uma "má-pessoa" por torcer o nariz ao escolher um belíssimo rótulo na adega e perceber que trata-se de uma screw-cap. Oras bolas, as screws representam uma evolução natural da humanidade, principalmente pelo quesito Natureza. Mas bem, convenhamos, 99% de nós, apreciadores de vinhos, preferem as cortiças.
    E pra ser sincero, creio que nunca iremos nos acostumar com vedações alternativas, apenas iremos nos conformar. Imagino que, num futuro não tão próximo, quando as cortiças já estiverem extintas, haverão pessoas bem idosas que bravarão: "no meu tempo, vinho de verdade era vedado com rolhas autênticas de cortiça..."

    Abraços
    Danilo Perciani - Jundiaí/SP

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    1. Olá Danilo, bem-vindo ao "Idas e vinhas..."
      Também acho que ainda é muito cedo para prever o fim da rolha de cortiça. Até lá, continuamos a curtir a surpresa que cada rolha revela sobre o vinho que protege....
      Abraços!

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  5. Luiz Francisco A. Senne21 de julho de 2014 às 17:42

    Caros amigos

    As garrafas vedadas com screwup devem ser conservadas na horizontal ou na vertical para sua conservação antes de serem abertas?

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    1. Olá Luiz Francisco!
      As garrafas vedadas com screwcap podem ser armazenadas sem problemas, tanto na vertical quanto na horizontal. As garrafas vedadas com a tradicional rolha de cortiça são mantidas na horizontal para que a rolha não resseque e encolha, causando excesso de oxidação do vinho. Como a screwcap impede o contato com o o ar, não há problemas.
      Abraço!

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