Nossa coleção de rolhas |
A forma como compramos hoje
o vinho, em garrafas padronizadas de proveniência conhecida, é reflexo de uma
longa evolução tecnológica e um fato relativamente recente na nossa história.
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Vaso grego para serviço do vinho |
Na antiguidade, o vinho era
armazenado em odres de couro, barro e cerâmica. Para que não estragassem
rapidamente, eram adicionados conservantes como a resina de pinho (podemos
imaginar que o resultado não fosse dos mais agradáveis...), e um costume da
época era diluir a bebida em água e temperar com especiarias e mel.
Já na idade média a
utilização de barris de madeira se difundiu para a conservação do vinho, facilitando
o transporte e o comércio. O vinho era então servido diretamente dos barris, e
garrafas e outros recipientes utilizados apenas para facilitar o serviço, não
para armazenar.
Apenas no final do século
XVII as garrafas de vidro começaram a ser fabricadas em série, modificando para
sempre a história do vinho. Algumas das grandes casas produtoras que conhecemos
hoje surgiram nessa época, trazendo identidade própria a seus vinhos, pois era
bastante comum o comércio feito por casas de comércio, que misturavam os vinhos
de diferentes safras e produtores antes de vendê-lo.
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Sobreiro |
E foi assim que pelo menos até a década de 90 do século
XX o casamento entre garrafa de vidro e rolha de cortiça foi considerado ideal.
Ainda hoje a rolha de cortiça é a preferida e mais utilizada em todo o mundo em
função da flexibilidade, capacidader de retomar o formato original após ser
comprimida para passar pelo gargalo e propriedades isolante e impermeabilizante.
A cortiça é extraída do Sobreiro, árvore típica de Portugal, que responde por 50 a 80% da produção mundial. Um fato curioso é que uma simples rolha que acaba de
ser colocada em um vinho da última safra tem pelo menos 43 anos de idade!! Isso
porque só após esse tempo é possível extrair uma camada de cortiça apropriada.
E depois disso, é possível produzir mais cortiça para rolhas apenas a cada 9
anos! O sobreiro é tão importante para a economia de Portugal que tem até página no Facebook (veja aqui) e um blog (veja aqui).
Da esquerda para direita: Screw cap / Cortiça para champagne / Cortiça / Sintética / Aglomerada |
Por questões ecológicas e para evitar o indesejável
efeito bouchonée causado nos vinhos por rolhas de cortiça contaminadas pelo
fungo armillaria mellea, os
fabricantes vêm buscando novas opções.
Uma das alternativas são as
rolhas sintéticas. Sua limitação é que se tornam inadequadas para vinhos de
guarda, pois aderem ao vidro após algum tempo, dificultando sua retirada.
A alternativa mais
promissora são as screw caps, ou tampas de rosca. Suas principais qualidades
são a praticidade, baixo custo e ótima proteção quanto à deterioração do vinho.
Embora mais largamente empregadas em garrafas de 375 mL e 187 mL e vinhos mais
simples, as screw caps vêm sendo utilizadas por excelentes produtores também em seus primeiros vinhos. O movimento iniciou no Novo mundo (Nova Zelândia,
Austrália, Estados Unidos, Chile) e agora é possível encontrar as screw caps
também em Chablis e Bordeaux.
Pessoalmente, nós aqui do “Idas e vinhas...” temos
experimentado ótimos vinhos tampados com rolhas sintéticas (destaque para o californiano
Robert Mondavi”) e screw caps (do Matua Valley na Nova Zelândia).
Mas uma coisa é certa, o ritual de abrir uma garrafa
de vinho com a tradicional rolha de cortiça é bem mais charmoso do que
simplesmente torcer uma screw cap, ainda mais agora que sabemos que cada rolha tem uma história de pelo menos 43 anos...
Assista aqui um vídeo em que dois especialistas degustam duas garrafas do mesmo vinho, com a mesma idade (4 anos),
uma delas com rolha tradicional e outra com screw cap. Escolheram um vinho de
quatro anos porque antes disso dificilmente se notaria alguma diferença. Eles
ressaltam que o vinho com rolha de cortiça apresenta maior evolução e
suavidade, enquanto o com a screw cap permanece com aromas bastante
distintos, sugerindo que pode ser guardado por longo tempo.
Qual a opinião de vocês?
Para saber mais:
Ana, você sabe a explicação química do fenômeno usado por Cristo em uma parábola, de que o vinho novo arrebenta odres velhos? Beijos mil!
ResponderExcluirOi Ana!
ExcluirBem, uma explicação poderia ser: um odre (recipiente de couro) velho já perdeu a elasticidade, pois com o repetido contato com o vinho já passou por diversas reações químicas que refletiram em sua estrutura (transferência de taninos, ressecamentos, etc.). Dessa forma, está mais rígido e frágil. Naquela época os processos de vinificação não eram tão controlados, e o vinho novo continuava a fermentar dentro do odre. A liberação dos gases da fermentação elevam a pressão interna a ponto de romper o odre.
Obrigada! Beijos!
ExcluirAinda gosto mais da rolha. Pena que a cortiça esteja em extinção!!!
ResponderExcluirParabéns pelo Blog!!!
Bjs
Ale Baroni
Olá Alessandra! Eu e Alexandre gostamos da rolha justamente pelo ritual de abrir, a tensão de retirar a rolha sem quebrar, a expectativa do aroma (torcendo para aquele vinho caro não estar estragado), é mais romântico... Mas creio que ainda teremos muitos anos de rolha de cortiça pela frente.
ExcluirGostou do post sobre o Chile?
Beijos!
Oi Ana!
ResponderExcluirBem, uma explicação poderia ser: um odre (recipiente de couro) velho já perdeu a elasticidade, pois com o repetido contato com o vinho já passou por diversas reações químicas que refletiram em sua estrutura (transferência de taninos, ressecamentos, etc.). Dessa forma, está mais rígido e frágil. Naquela época os processos de vinificação não eram tão controlados, e o vinho novo continuava a fermentar dentro do odre. A liberação dos gases da fermentação elevam a pressão interna a ponto de romper o odre.
Olá! Às vezes me sinto uma "má-pessoa" por torcer o nariz ao escolher um belíssimo rótulo na adega e perceber que trata-se de uma screw-cap. Oras bolas, as screws representam uma evolução natural da humanidade, principalmente pelo quesito Natureza. Mas bem, convenhamos, 99% de nós, apreciadores de vinhos, preferem as cortiças.
ResponderExcluirE pra ser sincero, creio que nunca iremos nos acostumar com vedações alternativas, apenas iremos nos conformar. Imagino que, num futuro não tão próximo, quando as cortiças já estiverem extintas, haverão pessoas bem idosas que bravarão: "no meu tempo, vinho de verdade era vedado com rolhas autênticas de cortiça..."
Abraços
Danilo Perciani - Jundiaí/SP
Olá Danilo, bem-vindo ao "Idas e vinhas..."
ExcluirTambém acho que ainda é muito cedo para prever o fim da rolha de cortiça. Até lá, continuamos a curtir a surpresa que cada rolha revela sobre o vinho que protege....
Abraços!
Caros amigos
ResponderExcluirAs garrafas vedadas com screwup devem ser conservadas na horizontal ou na vertical para sua conservação antes de serem abertas?
Olá Luiz Francisco!
ExcluirAs garrafas vedadas com screwcap podem ser armazenadas sem problemas, tanto na vertical quanto na horizontal. As garrafas vedadas com a tradicional rolha de cortiça são mantidas na horizontal para que a rolha não resseque e encolha, causando excesso de oxidação do vinho. Como a screwcap impede o contato com o o ar, não há problemas.
Abraço!