A Viña Montes foi a segunda vinícola que visitamos no Chile e a primeira em Santa Cruz, cidade que fica a aproximadamente 190 km de Santiago e cujo acesso se dá facilmente por ônibus. (Para quem sai da capital chilena, ônibus partem todos os dias do Terminal Alameda) - Aqui precisamos revelar uma coisa: além de enocuriosos, somos enomochileiros...
Como
íamos ficar apenas 2 dias e meio em Santa Cruz, deixamos a maior parte da
bagagem no hotel em Santiago (hotéis oferecem guarda-volumes que você pode
usar, sem constrangimento algum, mesmo após ter feito o checkout).
Levamos conosco somente o necessário - nossas mochilas estavam praticamente
vazias. (Obviamente, tudo isso era parte de um plano premeditado: voltar com
muitas garrafas de vinho!)
Situada
no Vale do Colchagua, Santa Cruz é uma pequena cidade que
abriga dezenas de vinícolas. Em 2010 sofreu muito com os abalos sísmicos que
devastaram muitas cidades no Chile e, até a ocasião em que lá estivemos (em
setembro de 2014), ainda era possível observar casas que não haviam sido reconstruídas
após a catástrofe. Ainda assim, a cidade tem boa estrutura para receber os
turistas, oferecendo alguns bons restaurantes e pousadas (no centro e em
recantos), um museu muito interessante, cassino
(para quem gosta), pracinha com igreja matriz, supermercado, padaria e uma "queijaria-relíquia"... (Inclusive, se você não quiser
gastar uma grana em restaurante bacana todas as noites, estes últimos podem ser
uma boa opção para garimpar uns pães e ótimos queijos para acompanhar aquele
vinho - que você já sabe que não vai conseguir esperar voltar ao Brasil para
abri-lo com os amigos). Além desses "atributos", Santa Cruz tem um
povo muito gentil e hospitaleiro, principalmente após vencida uma certa timidez
no primeiro contato... É um povo que te acolhe, que te dá receita de bolo e que
sorri com os olhos quando você agradece ou faz algum elogio...
Mas o que
causa real interesse na maioria das pessoas que visita Santa Cruz são mesmo as
viñas. Então, parafraseando os amigos Ana
Cristina e Alexandre Follador, "vamos à vinha?"
Uma Viña
cercada de Montes...
A Montes
está localizada a cerca de 10 km do centro de Santa Cruz, numa bela
propriedade cercada de morros verdes. Como em outras vinícolas no Chile,
fizemos previamente a reserva do nosso passeio (através dos contatos fornecidos
no sítio virtual) e,
talvez por ser inverno (e época de entressafra), foi muito tranquilo conseguir
agendar esta e outras visitas com pouquíssima antecedência.
Por não
haver transporte coletivo que atendesse aos trajetos e pelo fato de as
distâncias serem relativamente pequenas, todos os nossos deslocamentos
(hotel-vinícolas/vinícolas-hotel) foram feitos de táxi - combinávamos o preço
antes e rumávamos para os nossos passeios...
Chegamos
à viña com pouca antecedência, mas
como não havia necessidade de pagamento prévio ou qualquer outra formalidade,
nos restava apenas aguardar um pouco até que o grupo (pequeno, aliás) estivesse
completo para começar o passeio. A guia que nos conduziria, Romi, era um amor de pessoa: uma moça
muito gentil e simpática que, além disso, demostrou ter bastante conhecimento
sobre tudo o que seria mostrado durante nossa visita.
Começamos
o tour na "caçamba" de uma pequena camionete (adaptada com
bancos e guarda-sol) que fez um aprazível trajeto pelos vinhedos até um mirador de onde se tinha bela vista da
propriedade.
Lá no
terraço, Romi nos apontou os diversos lotes de terra, identificando cada uma
das espécies ali cultivadas, e nos contou alguns detalhes do tratamento que as
videiras recebem para que se possa extrair delas o melhor. Dentre esses
detalhes, nos falou sobre o processo do stress hídrico ao qual a parreira
é submetida. Recebendo pouca água (de gota em gota e em períodos espaçados), a
planta "poupa energia" para poder gerar um bom fruto. Dessa forma, as
uvas colhidas destes parreirais, segundo nos explicou Romi, serão bem pequenas,
porém com um "sumo" muitíssimo "rico" ou, em outras
palavras, elas vão “concentrar" as características/substâncias ideais para
a produção de um vinho de melhor qualidade. Basicamente (bem basicamente) é
isso. E pelo que pudemos observar depois, esse é um procedimento bem comum
entre produtores de vinhos – no Chile e fora dele.
Depois do
passeio e das explicações na área externa, entramos para conhecer a cava, adega
etc. Logo na entrada, uma grande escultura do anjo que estampa os rótulos da
vinícola dava as boas-vindas aos
visitantes. Romi contou a história daquele anjo e sua relação com um dos fundadores
da Montes.
Há um
certo aspecto "curioso" que permeia algumas coisas na Viña Montes.
Além da história do anjo (que não contaremos aqui para não tirar a graça de
quem ainda vai fazer essa visita), a vinícola lança mão de práticas, digamos,
"incomuns" na busca pela prosperidade do negócio e de um diferencial
na qualidade dos seus vinhos, como a aplicação do Feng Shui nas instalações da propriedade e a execução de um
áudio com cantos gregorianos na sala de envelhecimento onde os vinhos
repousam em barricas de carvalho. Inusitado, não? (Será que funciona?)
A degustação se deu numa ampla sala toda
envidraçada, com bela vista para os montes que circundam a vinícola e, não
sabemos se por “culpa” da belíssima vista ou se por conta do teor de álcool
ingerido (tudo isso drasticamente agravado pela nossa inexperiência), a verdade
é que não lembramos quais foram os vinhos oferecidos naquela ocasião (!!!!!). A
doce Romi se envergonharia de nós... (e ela explicou tudo tão direitinho!)![]() |
Sala de
degustação com vista para os montes e parreirais |
Mas,
vejam só: lembramos de duas sensações muito claras e que nos impactaram! Pela
primeira vez, numa prova de vinhos, nós conseguimos identificar os aromas
apontados pelo guia/enólogo! Isso nos deixou muito satisfeitos! A gente lembra
com clareza da alegria sentida ao identificar o cheiro doce e fresco de frutas
tropicais como abacaxi e maracujá no vinho branco servido (provavelmente um
Chardonnay); e ainda o cheiro de pimentão verde que conseguimos identificar no
Carménère da casa. Aliás, só recordarmos tratar-se de um Carménère justamente
porque temos a lembrança de que cheirava forte a pimentão! Acho que, explicado
isso, a Romi até nos absolveria, não?
Depois da
degustação, fomos almoçar no Bistró Alfredo, que tem mesas na área externa,
ao lado dos espelhos d'água e com aquela vista linda dos montes em volta. O dia
estava lindo! Propício para um almoço ao ar livre! Escolhemos um vinho com a
ajuda do garçom que nos serviu. Havíamos pedido um prato à base de peixe com
ervas (fizemos o pedido antes do tour).
Estava muito saboroso! As sobremesas estavam ótimas também (eram várias mini
sobremesas individuais), com destaque para o suspiro limeño - divino!
Os vinhos
Dos vinhos degustados, (se não me engano...) gostamos mais do branco (provavelmente um chardonnay). No entanto, compramos um Montes Alpha Cabernet Sauvignon (que não estava na degustação). Nossa “aposta” viria a ser elogiada por se tratar de um vinho com ótimo custo-benefício e um diferencial: um vinho mais "sério", robusto... – diferente dos usuais chilenos, mais "frutados" e suaves... Ele faria peso e volume nas nossas mochilas junto a outros vinhos de bodegas que ainda visitaríamos em Santa Cruz antes de voltar a Santiago...
É "mais passeio" ou é
"mais vinho"?
Este é um
caso em que os dois quesitos se equivalem: é mais passeio e é mais vinho.
Fizemos o tour convencional, com
degustação de dois vinhos intermediários e dois da linha premium, e tanto o passeio como a degustação superaram nossas
expectativas. Fomos muito bem atendidos e os preços são muito acessíveis. É
realmente um dos passeios imperdíveis no Vale
do Colchagua.
Enocuriosos
*Fotografias
de Dagô e Simone.
Quer seguir nos acompanhando nesta viagem? Ela continua aqui: http://www.idasevinhas.com.br/2015/06/enocuriosos-vinas-de-chile-viu-manent.html
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