Enocuriosos... Viñas de Chile – Casa Lapostolle


Seguindo nosso roteiro na pequena e aprazível Santa Cruz, restava-nos metade de um dia para fazermos nossa última “enovisita” a uma das muitas vinhas que ainda nos faltava conhecer naquele vale. Escolhendo apenas mais uma (tudo o que o tempo nos permitia) entre tantas vinícolas, acabaríamos voltando de Santa Cruz sem conhecer sequer 1/5 dos seus produtores. O que é ótimo, em certo sentido: você já sai de lá com o pretexto para uma próxima viagem!

Escolhemos a Lapostolle pela proximidade e praticidade de deslocamento. A apenas 11 km do centro de Santa Cruz (e 13,4 km da pousada onde estávamos hospedados), a casa é conhecida por produzir vinhos "de alma francesa". Isso, aliás, foi outra questão que influenciou nossa escolha. É certo que o melhor lugar para se conhecer vinhos de alma francesa deve ser mesmo, indubitavelmente, a França... – mas devemos convir que tal fama provoca certa curiosidade... A enocuriosos, então, nem se fala!
Como em outras vinhas da região, fizemos o agendamento prévio (neste caso, por telefone e no mesmo dia da visita!) e seguimos até lá de táxi. Para a volta, soubemos que a viña oferece o transfer gratuito até o centro de Santa Cruz – fizemos a solicitação e fomos atendidos (economizamos alguns pesos para gastar com vinho). Como já havia ocorrido em outra ocasião, pagamos por um tour não privado mas acabamos sendo os únicos a curtir o passeio. 

Fomos recepcionados numa ampla sala que, em períodos de vindima (no verão, quando se dá a colheita), fica cheia de caminhonetes com esteiras e outras máquinas a elas acopladas e dezenas de trabalhadoras (sempre mulheres - segundo nossa guia, mais delicadas para a função) incumbidas de selecionar e separar uvas boas de uvas prejudicadas, galhos, folhas etc. Essas caminhonetes são alugadas especificamente para a ocasião, já que o volume de produção, ali, não justificaria o custo de comprar e fazer manutenção de maquinário para tal emprego.

Dali, nossa guia, muito simpática (mas de quem, infelizmente, não lembramos o nome), nos conduziu até o terraço no alto do "ninho", como é conhecida a emblemática construção fincada na rocha, com diversos patamares abaixo do solo, e de onde se tem bela vista dos parreirais da extensa propriedade.


Vista parcial da propriedade a partir do ninho.

À época da construção, a rocha foi dinamitada para abrigar "o ninho", mas parte dela foi preservada com o intuito de criar um ambiente onde a temperatura se mantivesse sem grandes variações, sobretudo no verão. Visitamos a Lapostolle no inverno e lá dentro fazia muito frio. Nossa guia explicou que, independente da estação do ano, a temperatura lá dentro é praticamente a mesma - sem nenhuma necessidade de ventilação artificial. 


O fato de a vinícola ter sido construída em patamares sobrepostos também foi outra questão pensada para influenciar na qualidade do vinho. Isso porque todo o processo de vinificação, ali, se dá por gravidade - técnica que dispensa o uso de máquinas de bombeamento nas diversas etapas da produção e, com isso, impede que as uvas sofram maceração indevida (o que acarretaria um amargor no mosto causado pela prensa/rompimento das cascas e sementes, impactando no "sabor" do produto final). Sem o uso de bombas, as uvas simplesmente "caem" (por gravidade) nos diversos toneis dispostos e conectados entre si nos primeiros pavimentos do "ninho". Já tínhamos conhecido essa técnica em visita a outra vinha em Santa Cruz (essa é uma técnica bem comum, aliás), mas o interessante na Lapostolle é o fato de a mesma ser aplicada até o momento da guarda em barris e de a edificação ter sido totalmente idealizada e perfeitamente adequada para atender a todo este processo.


Interior de um dos tonéis de fermentação - destaque para
a serpentina utilizada para controle da temperatura.
O "ninho" apresenta, ao todo, seis pavimentos. A visita começa pelos andares superiores, onde as uvas são despejadas nos tonéis para fermentação, e termina nos andares mais baixos (incrustados na rocha), onde estão as salas de guarda e envelhecimento, bem como a adega particular da família.


Foi à mesa que dá acesso à adega da família (sim, a adega se acessa por uma escada abaixo do tampo de vidro da mesa) que aconteceu a nossa degustação. Estávamos "mal-acostumados" a, até então, fazer as degustações sentados e sempre com algum biscoitinho ou torradinha para ajudar a "limpar o sabor" entre um vinho e outro e nos causou má impressão o fato de, na Lapostolle, degustamos de pé (usando a suntuosa mesa como se fosse um balcão) e sem nenhum "tira-gosto"...


Sala de envelhecimento e degustações
Infelizmente, também aqui, não temos recordação dos vinhos servidos na degustação (a gente já teve um lapso de memória parecido aqui... – Se continuarmos nessa toada vamos acabar perdendo os nossos 3 leitores assíduos!). Por outro lado, lembramo-nos de duas coisas muito importantes! Primeira coisa: ficamos muito lamentosos por não termos podido experimentar o Borobo (estávamos realmente muito curiosos a respeito). Segunda coisa (e surpreendente): pudemos experimentar o "top-top-ultra-maxi-ícone-plus" (e super premiado) Clos Apalta! (A parte surpreendente é que não nos agradamos dele!!! - Ficamos surpresos mas, de certa forma, aliviados também, afinal, o ícone é um dos rótulos mais caros da casa). Outro dado interessante: nos foi informado que os vinhos degustados passaram um tempo descansando em um decanter e foram reintroduzidos nas respectivas garrafas para nossa degustação – não tínhamos visto este procedimento antes mas não sabemos dizer se isso fez grande diferença ao nosso paladar.


Os vinhos

Dos vinhos degustados, não provamos nenhum que nos despertasse o desejo de um “quero mais” – será que nossa falta de maturidade nos privou de aproveitar melhor excelentes vinhos? Suspeitamos que sim. Mas não podemos mentir: os vinhos não corresponderam à alta expectativa que criamos. Apesar de não nos empolgarmos na degustação, compramos o Cuvée Alexandre Merlot - para não perder a oportunidade e para dar uma última “chance” à Casa Lapostolle (quanta pretensão a nossa!...) e... Foi a melhor coisa que podíamos ter feito! Adoramos o vinho! Além de tudo, ainda tem ótimo custo x benefício!

Ah, e, claro, peça para provar o Borobo e, se conseguir, conte aqui para nós o que achou!

É "mais passeio" ou é "mais vinho"?

Difícil responder... Os vinhos (lá) não empolgaram (o que nos agradou foi a “aposta” que trouxemos pra casa!). A propriedade é linda e a arquitetura - um tanto quanto futurista - atrai, sem dúvida, a atenção. Achamos, entretanto, que faltou um pouco mais de contato com o campo e o trabalho com a terra – a sensação é a de que não estávamos em meio aos vinhedos. Então, se puder se programar para tal, priorize conhecer a vinícola no período da vindima para ver um pouco do trato com a terra e sentir o cheiro da uva pelo ar, além de poder ver a sala de recepção transformada em uma “linha de produção”... Vimos algumas fotos dos trabalhos ali nesse período e ficamos com vontade de voltar só para ver “o evento”.

Enocuriosos
*Fotografias de Dagô e Simone.

Gostou dessa postagem? Confira o post sobre a visita anterior desta série aqui.


Ana Cristina e Alexandre Follador também visitaram a Lapostolle! Veja aqui.

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