Nessa
época de festas, Champagne, espumantes e frisantes são as bebidas perfeitas. O
Prosecco em particular é muito apreciado aqui no Brasil, e nesse embalo
exploramos um pouco mais esse universo.
A
edição de Dezembro da revista inglesa Decanter traz um interessante artigo sobre o Prosecco
e foi a base para esse post. Para vivenciarmos a experiência, degustamos o Felice Valdobbiadene Prosecco Superiore
2011 Brut.
Um
dos vinhos mais conhecidos da Itália, o Prosecco vem ganhando um novo
significado nas regiões de Conegliano e Valdobbiadene. O redesenho do mapa das
zonas de produção do mais popular vinho espumante oferece um novo cenário para
os produtores, mais opções aos consumidores de vinho e, acima de tudo, orienta
enfaticamente o foco na qualidade.
Em
2009 entrou em vigor a legislação cujo objetivo é reorganizar a produção do
Prosecco em uma pirâmide de níveis de qualidade. Claro que diferenças na qualidade dos
vinhos produzidos em diferentes áreas sempre existiram, mas no passado elas nem
sempre estiveram claras para o mundo exterior. As novas regras primam pela
qualidade, oferecendo indicações para os amantes do vinho e dando aos produtores
o incentivo para buscar a excelência.
A pirâmide da
qualidade
Atualmente
há dois conjuntos distintos de normas para Prosecco, um para os vinhos DOC e
outra para a categoria DOCG, a denominação de qualidade superior da Itália.
A
base da pirâmide de produção é constituída por Prosecco DOC, que vem de uma
área recém-criada que se estende desde Treviso através das planícies do Veneto
e da região vizinha Friuli.
Já
o Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore - para dar o nome do vinho DOCG
completo - vêm das montanhas pré-alpinas que estão de leste a oeste, entre as
cidades gêmeas cujos nomes aparecem no rótulo.
Os vinhos Prosecco se originaram nas encostas de Conegliano e Valdobbiadene, onde indiscutivelmente, as suas variedades nativas crescem melhor. Dentro da área de produção do Superiore a nova legislação mantém a famosa subzona de Cartizze e acrescenta uma nova categoria para um número limitado de localizações especiais identificadas pelo nome “Rive”. “Rive” significa, em dialeto local, vinhedo em colina ingrime e, no contexto do Veneto, corresponde aproximadamente ao conceito francês dos vinhedos “cru”.
As castas
Antes
das novas normas, Prosecco era o nome dado tanto à variedade da uva como ao
vinho. Pela legislação de 2009, em conformidade com os critérios da União
Europeia, o nome Prosecco passou a referir-se exclusivamente ao vinho. As
castas permitidas permanecem exatamente as mesmas, mas a principal delas não
será mais chamada de Prosecco, e sim pelo nome tradicional local: "Glera".
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Foto 2 |
Uma
teoria da origem dessa casta remonta à aldeia de Prosecco, na província de
Trieste. Ela tem sido amplamente cultivada nas colinas de Conegliano e Valdobbiadene
desde o século XVIII.
A
Glera é ideal para a produção de espumante de qualidade, devido ao baixo teor
alcoólico e à acidez fresca. Seus aromas florais e de frutas brancas como pêra
e maçã são a marca registrada do vinho Prosecco.
A
presença mínima de 85% é obrigatório, embora na prática a maioria dos
produtores utilizam um percentual maior. Para os 15% restantes podem ser utilizadas
outras variedades locais como a Verdiso (oferece boa acidez), Perera (aromática)
e a Bianchetta. A DOCG também permite que se adicione pequenas quantidades de
Chardonnay ou Pinot.
O terroir
Há
dois pontos para entender o que faz o Prosecco Superiore diferente e especial:
terroir e tradição. Vinhos DOCG vêm de uma área com condições de crescimento muito
particulares. As colinas de Conegliano e Valdobbiadene são protegidas das
correntes de ar frio vindas do norte pelos Alpes, permitindo um período de
maturação longo, que normalmente se estende até Outubro.
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Foto 3 |
Voltadas
ao Sul em altitudes que vão de 100 a 400 metros, as vinhas estão sujeitas à
grande exposição à luz solar, o que juntamente com as variações de temperatura entre
noite e dia ajudam a preservar a acidez e desenvolver o aroma.
As
cidades gêmeas de Conegliano e Valdobbiadene, para fazer outro paralelo com a
França, poderiam ser consideradas como as denominações de communes do DOCG. As encostas de Conegliano são geralmente um pouco
mais baixas, e o clima é mais seco e mais quente.
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Foto 4 |
Os
vinhos de Conegliano são tradicionalmente considerados um pouco mais suaves e
com notas de frutas maduras lembrando pêssegos. Por outro lado, os vinhos de Valdobbiadene
tendem a ser mais leves, com caráter mais cítrico e aromas mais delicados resultantes
das condições climáticas ligeiramente mais frias.
Dentro
destas duas áreas macro, há subzonas importantes. A mais conhecida e
historicamente mais importante delas é Cartizze. As vinhas com mais de 100 anos
(ainda em produção) espalhadas nos terraços são evidências de longas tradições
vitivinícolas da região densamente plantada, com pouco mais de 100ha, localizada
em um dos limites da DOCG Valdobbiadene.
E
ainda há as seleções "Rive". Vinhos Rive são elaborados a partir de
vinhedos de baixo rendimento e devem declarar a safra no rótulo. Eles visam
refletir as diferentes nuances de terroir e oferecer vinhos de qualidade
superior com perfis especiais de sabor e aroma.
História
Graças
ao boom de popularidade das últimas décadas, o Prosecco é muitas vezes tido
como sendo uma criação moderna da indústria de vinho do Veneto. Nada mais longe
da verdade. A primeira vez que a Prosecco foi utilizada para denominar a uva foi
no final do século XVIII e a documentação dos biótipos da variedade, datada de meados
do século XIX, indicam que a viticultura já havia atingido um estado avançado naquele
período.
Quando
exatamente o Prosecco surgiu é difícil de determinar, mas a tradição de fazer
"frizzante" ou vinhos "semi-espumante" - ainda que por
métodos artesanais - certamente não é recente na Itália.
O
primeiro homem a fazer uma produção comercial de espumante Prosecco foi o
químico e enólogo do século XIX, Antonio
Carpenè, que fundou a casa Carpenè-Malvolti em 1868.
Outra
grande contribuição de Carppenè para o desenvolvimento da indústria do vinho
foi a criação, em 1876, da Scuola di
Viticoltura e Enologia di Conegliano, que formou gerações de agrônomos e
enólogos locais, estabelecendo uma sólida base de conhecimento.
O
Veneto suportou o peso do conflito da frente italiana durante a Primeira Guerra
Mundial, e a agricultura e viticultura, em particular, lutaram para se
recuperar de seus efeitos devastadores no período pós-guerra.
Foi
somente após a Segunda Guerra Mundial, que novamente trouxe destruição
generalizada para a área, que a recuperação gradual começou.
Através
dos anos 1960, inovadores como Bortolomiol
(entre outras coisas, pioneiro do então controverso estilo Brut) levaram a
vinificação em frente. O método de segunda fermentação em cuba foi refinado e houve
um upgrade tecnológico em geral.
O
consórcio dos produtores foi fundado em 1962 e o reconhecimento da DOC Prosecco
di Conegliano e Valdobbiadene chegou em 1969.
O
vinho começou a ganhar apelo internacional durante os anos 80 e 90. No início do
século atual o Prosecco tinha alcançado tanto sucesso comercial que seu estilo começou
a ser copiado na Austrália, América do Sul e Europa Central, chegando ao ponto de
ser embalado em latas de alumínio.
No
Brasil temos alguns produtores que produzem espumantes com a uva Prosecco
(lembrem-se que na Itália agora o nome da uva é Glera). Um exemplo é a Salton (veja aqui o post).
A
revisão da legislação em 2009 trouxe um fim à tanta especulação, afirmando os
direitos exclusivos do Veneto e Friuli-Venezia Giulia para a utilização do nome
Prosecco e, ao mesmo tempo, reconhecendo a área histórica da produção de
qualidade, com a instituição da DOCG Conegliano Valdobbiadene Prosecco
Superiore.
Conegliano
Valdobbiadene Prosecco Superiore - Estilos
Os
estilos em nível crescente de doçura: Brut, Extra Dry e Dry.
Brut
(0-12 g/l) representa em torno de 60% do mercado
Extra
Dry (12-17 g/l) representa em torno de 30% do mercado
Dry
(17-32 g/l) representa em torno de 10% do mercado
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A
grande maioria dos Prosecco é feito pelo método Martinotti-Charmat onde a segunda fermentação acontece em cubas de
aço inoxidável pressurizadas chamadas, as autoclaves.
O
sistema foi patenteado em 1895 pelo então diretor do Oenological Institute em Asti, Martinotti,
e mais tarde adotado por um engenheiro francês chamado Charmat, daí o nome compartilhado. Também ficou conhecido como
"Método Italiano", devido a sua ampla utilização no país.
Em
termos de textura, a pesquisa demonstrou que a segunda fermentação em autoclave
produz a mesma qualidade de perlage que o da segunda fermentação em garrafa,
utilizada no “Método Clássico”.
A
diferença entre os dois reside na abordagem dos aromas. Enquanto os aromas (casca
de pão, tostado, amêndoas) obtidos pelo “Método Tradicional” são oriundos da
quebra das leveduras, o “Método Italiano” é projetado para preservar os aromas
varietais do vinho base, tornando-o ideal para o caráter frutado e floral do
Prosecco Superiore.
Micro-produções
de Prosecco utilizando o “Método Clássico” começaram a surgir nos últimos anos,
e há também um culto de seguidores para os vinhos frisantes feitos pelo método
artesanal tradicional de engarrafamento com as borras. Infelizmente, não são
fáceis de encontrar fora da Itália.
O Prosecco que
degustamos - Felice Valdobbiadene Prosecco Superiore 2011 Brut
De
cor amarelo ouro, aromas delicados e, embora brut, com perceptível açúcar
residual (sem ser enjoativo). Apresentou bom perlage, com bolhas bem pequenas que formaram um colar fino.
No
nariz, as notas mais marcantes foram de flores brancas, mel, abacaxi e pêssego.
Muito agradáveis, de intensidade e persistência médias. Em boca apresentou
equilíbrio muito bom, acidez fresca e corpo médio. As notas aromáticas
percebidas no nariz foram confirmadas e com mais intensidade e persistência.
No
geral, concluímos que é um Prosecco com a tipicidade descrita na matéria.
Fresco e agradável, com relação custo benefício muito interessante.
Nossa nota IV: 81
O rótulo
Vinho: Felice Valdobbiadene Prosecco Superiore 2011 Brut
Produtor: C.V.S SPA Vazzola
Casta: mínimo 85% Glera
Safra: 2011
País: Itália
Região: Valdobbiadene DOCG
Graduação: 11,5%
Preço: R$ 32,00 na Deu la Deu Vinhos, Rio de
Janeiro.
* Crédito das fotos 1, 2, 3 e 4: página do Facebook do Consorzio Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore
Degustação técnica: Prosecco e Vinhos Portugueses
Provamos e aprovamos... Col Vetoraz - Prosecco di Valdobbiadene Superiore di Cartizze DOCG – Extra Dry
Degustação técnica: Prosecco e Vinhos Portugueses
Provamos e aprovamos... Col Vetoraz - Prosecco di Valdobbiadene Superiore di Cartizze DOCG – Extra Dry
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