Enocuriosos... Aqui, abrimos um parêntese - El queque de Pilar


A palavra "queque" é, provavelmente, uma adaptação hispânica de "cake" (bolo, em inglês) e é comumente usada por nossos vizinhos de América Latina para se referir a bolo mesmo. Pilar é o nome da senhora que preparava o café da manhã na pousada onde ficamos hospedados por apenas duas noites, em Santa Cruz. - E o que isso tem a ver com vinhos?

Especificamente com vinhos, assim, diretamente..., nada.
Vista a partir da janela do quarto
Mas se considerarmos que quem gosta de vinho, geralmente, é aquela pessoa que dá valor ao bem-comer e que, muito provavelmente, aprecia o macarrão e o pão feitos em casa, a feijoada da mãe servida à mesa, o quitute da tia raspado do tabuleiro, o bolo da vovó acompanhado de café-com-leite de tardinha... E se somarmos a essa característica (daqueles que apreciam vinho) uma outra que é se dispor a viajar para conhecer outras terras, outros ares, outros vinhos e também as pessoas, seus sotaques, suas canções e... suas comidas (!), então o queque da dona Pilar não parecerá um tema tão avesso assim para ser tratado aqui - ainda que ele seja, de fato, um "pretexto"...

Foi por isso que sentimos a necessidade de abrir um parêntese. Uma "postagem-parêntese" - para falar de "coisas" que aparentemente não têm relação direta com o vinho, mas que, certamente, têm relação com o coração das pessoas (apreciadoras ou não de vinho). Uma postagem para falar do nosso contentamento com o povo de Santa Cruz antes de voltarmos a escrever sobre as vinhas de Santiago (seguindo um paralelo cronológico com o que foi o nosso roteiro no Chile). 

Porque em Santa Cruz fomos surpreendidos pelo carinho e pela gentileza das pessoas. Do taxista, Sr. Flávio, "figuraça", que gostava de dar dicas de outras cidades que devíamos conhecer no Chile e que, embora quisesse muito falar de futebol naquele setembro pós-copa, conteve-se diante dos clientes brasileiros...; do simpaticíssimo dono da Queijaria Santa Marta, com quem proseamos por quase uma hora (ele nos perguntando coisas sobre o Brasil, nós perguntando a ele coisas sobre o Chile); da doce Romi, nossa amável guia na Viña Montes, que nos sorria com os olhos...; da pacata dona Pilar, que preparava o café da manhã na pousada e que, perguntada sobre o delicioso bolo à mesa, nos deu a receita e nos levou até sua cozinha para mostrar as coisas que não compreendíamos entre os ingredientes (escritos em espanhol)... 

Quando dissemos aqui que o povo de Santa Cruz é um povo que te acolhe, que te sorri com os olhos e que te dá receita de bolo, não era uma metáfora.

Santa Cruz representou um momento "família" naquela nossa primeira ida ao Chile. Após um certo "baque" em Santiago, uma cidade interessantíssima, com as belezas e as "imbelezas" de uma grande metrópole e onde a maioria das pessoas é extremamente "fechada", chegar em Santa Cruz e perceber a mudança no olhar das pessoas foi como chegar de supetão na casa daquela tia-avó que você não conhecia... Um acanhamento inicial seguido de um olhar gentil, uma boa prosa e... um bolo caseiro!


Esta postagem é um parêntese e um pretexto... - para deixar registrados nosso carinho e nossa gratidão às pessoas que nos acolheram, nos sorriram, nos deram "um dedo de prosa" (ou uma receita de bolo) em Santa Cruz...

Mas agora, feito o registro (e parafraseando nossos amigos Ana Cristina e Alexandre Follador)... Vamos ao bolo?

El queque de Pilar (ou... Bolinho integral de avelãs)

O bolo da D. Pilar é de massa integral com avelãs. Muitíssimo saboroso, leve e quase “esfarelento”. Aqui no Brasil (com os ingredientes que encontramos aqui) nunca chegamos a conseguir o mesmo aspecto, textura e sabor que tinha o original. Mas, ainda assim, fica um bolo saboroso. Pela diferença de ingredientes lá e cá, fizemos algumas adaptações para dar uma incrementada. (Nossas adaptações estão em itálico na receita abaixo).

- 2 ovos
- 1 xícara de leite
- 1 colher (sobremesa) de essência de baunilha ou amêndoas
- 1 “xicrinha” (café) de óleo (usamos óleo de coco e enchemos a “xicrinha” um dedo abaixo da borda)
- 1 xícara de açúcar (usamos demerara, mas pode ser mascavo ou refinado)
- 2 xícaras de farinha de trigo integral (nós peneiramos)
- 1 colher (chá) fermento químico em pó
- Avelãs picadas (a gosto)
- 1 colher (sopa) cheia de creme de cacau com avelãs - para fazer “gotas” na massa (opcional)
- açúcar de confeiteiro para polvilhar (opcional)

Ligue o forno em temperatura alta.

Numa bacia, bata ligeiramente os ovos e vá juntando os ingredientes líquidos e o açúcar. Por último a farinha, o fermento e as avelãs. Misture tudo (não precisa batedeira, é só misturar!). Fica uma pasta pesada e “grosseirona”. A D. Pilar despeja sobre uma forma pequena de bolo inglês forrada com papel manteiga (para esta receita, forma de 12x23cm, ou algo próximo disso). Nós usamos qualquer forma (desde que pequena) untada com manteiga e polvilhada com farinha branca ou açúcar.

Se você for usar o creme de avelãs e cacau, deve despejar apenas metade da massa na forma. Com a ajuda de uma colherinha de café, vá “pingando” grandes “gotas” do creme sobre a massa. Por fim, despeje o restante da massa e leve ao forno. Diminua a temperatura (aqui em casa fica a 240ºC) e deixe o bolinho assar por cerca de 30 a 40 minutos (ou faça o teste do palito).

É um bolo simples, facílimo de fazer e muito gostoso. Combina com dias frios e vai muito bem com um cafezinho!
Versão brasileira: Enocuriosos...
E aí? Alguém se anima a fazer a receita (com ou sem as adaptações, ou criando as suas próprias) e vir contar aqui o que achou? (Ou teve quem mais se animasse a ir a Santa Cruz provar do bolinho original em terras chilenas? – o que não é mau negócio, viu?).

Bom apetite!

Enocuriosos

*Fotos de Dagô e Simone.

Santa Cruz abriga dezenas de vinícolas e nossos amigos Ana Cristina e Alexandre Follador também tiveram dias muito bacanas na cidade. Confira as postagens em que eles relatam suas enoexperiências por lá!



Comentários