Sempre que começamos a planejar um roteiro de visitas a vinícolas surge,
quase que de imediato, uma questão: “– É possível visitar estas bodegas
utilizando transporte público?” Pode parecer pouco relevante à primeira vista,
mas para os Enocuriosos é importante
empenhar o orçamento com visitas privativas e aquisição de bons vinhos e para
isso abrimos mão de gastar dinheiro com transporte exclusivo (remis e transfer)
- mesmo que isso acabe por trazer alguns pequenos contratempos. As próximas postagens sobre as
vinícolas do Chile estão impregnadas deste espírito “enomochileiro”.
Desde nossa primeira viagem ao Chile (realizada apenas
6 meses antes) sentimos que seria imprescindível visitar o Valle de Casablanca e
aproveitar um pouco da fama que a região tem de produzir excelentes vinhos
brancos. Não queríamos alugar um carro porque isso acabaria por inibir nosso
desejo de degustar livremente. Contratar uma agência de “enoturismo de massa”
também não seria uma opção válida. Olhando no mapa é fácil perceber que há
várias vinícolas enfileiradas ao longo da ruta
68 e nosso raciocínio bastante simplório foi: “– se o ônibus percorre a ruta até Casablanca, ele há de passar em
frente ao nosso primeiro destino do dia”. Acertamos na mosca! A postagem de
hoje é sobre nossa visita à Casona Veramonte.
Nosso plano era sair de Santiago bem cedo e pernoitar por 3
noites no Vale de Casablanca - por isso trazíamos conosco alguma bagagem e
também o espaço necessário para acomodar algumas garrafas que certamente
compraríamos nas 6 visitas planejadas para o Vale (maior parte da bagagem,
deixamos no hotel, em Santiago, conforme já explicamos em outra ocasião – veja aqui).
Havíamos decidido não fazer qualquer tipo de tour na Veramonte por
dois motivos: (1) faríamos três visitas naquele dia e (2) não queríamos chegar
tarde ao nosso segundo passeio agendado para aquela manhã (pois poderia gerar
um atraso em cascata). Como nossa proposta era apenas degustar vinhos, nos
certificamos de que não seria necessário fazer reserva e tratamos de acertar os
detalhes relacionados ao deslocamento. O ponto de partida é o Terminal San Borja (já
citado em nossa postagem sobre a Viña Undurraga).
Ao ingressar no ônibus, explique ao motorista que você deseja descer na
estrada, em frente à Veramonte (a
localização precisa é o quilômetro 66 da ruta
68). Não há uma parada de ônibus “oficial” neste local, mas é sabido que
algumas pessoas (na imensa maioria os trabalhadores da viña) descem em frente à vinícola. A parada é logo após o segundo túnel da rodovia e antes da
praça de pedágio. (Se algo der errado, você logo perceberá). Após desembarcar
na estrada, bastou andar 500 metros e logo estávamos dentro da enoboutique e
recepção.
Como havíamos chegado sem avisar, nossa degustação não estava preparada
e por isso mais um breve instante nos foi solicitado para arrumar a mesa em um
canto da loja – com uma bela vista para a sala de barricas.
Procuramos por uma das melhores degustações disponíveis à
época e pedimos para incrementá-la com os queijos que eram servidos em outro tour, pois não seria muito auspicioso
degustar vinhos às 10 horas da manhã sem algo para acompanhar (hoje o sítio
virtual da Veramonte oferece mais opções de degustações, algumas tão interessantes
que nos deu vontade de voltar a visitá-la em breve). O profissional que nos
atendia pediu um minuto para consultar outra pessoa do staff e logo em seguida informou que seria possível sim atender ao
nosso apelo com um valor adicional que consideramos mais do que justo.
Assim que fomos acomodados à mesa, recebemos as notas de degustação de todos os vinhos que nos seriam servidos bem como algumas orientações a respeito dos queijos que complementariam a experiência. Embora de nível intermediário, as informações foram suficientes para satisfazer nossa fome de conhecimento. Em seguida, ficamos “a sós” neste pequeno refúgio da loja.
Degustamos 4 vinhos - Veramonte Reserva Sauvignon Blanc 2014, Ritual Pinot Noir 2013, Primus The Blend 2013 e Neyen 2010 – poucas vezes uma sequência de vinhos
mostrou-se para nós tão adequada e bem sucedida no intento de demonstrar o que
de melhor e mais variado a casa tem para oferecer a seus visitantes. Os queijos
“maridaram” muito bem com os vinhos e não há nada a ressalvar quanto ao
conforto e beleza do ambiente. Estávamos muitíssimo à vontade.
A loja (já à época - março de 2015) era bastante bonita e, ao ver fotos atuais do mesmo local, foi possível identificar que fizeram uma bela reforma. A Veramonte possui um portfólio extenso e isso facilita bastante a tarefa de projetar uma boutique porque a variedade de formas, cores e rótulos multiplica as possibilidades de arranjo – uma pena não termos boas fotos para ilustrar melhor.
Antes de
encerrar este relato gostaríamos de partilhar com quem nos lê uma situação
curiosa. Assim que chegamos à Veramonte
informamos ao staff que tínhamos
visita agendada para outra vinícola com localização muito próxima e perguntamos
se seria possível ir à pé de uma bodega a outra, por dentro do vinhedo (elas
são vizinhas na estrada). Foi visível o espanto com nossa pergunta (porque
havíamos acabado de chegar) e após alguns segundos de indefinição a resposta
foi unânime – teríamos que solicitar um táxi (algo que os funcionários se
prontificaram a fazer quando chegada a hora). Faltando apenas 40 minutos para
nosso próximo compromisso, achamos estranho que o táxi não havia sequer sido
chamado (pois percebemos que todos os atendentes da loja estavam ocupados com
outras atividades) e perguntamos se havia algum problema. Um dos atendentes nos
chamou para um canto da loja e contou em um “quase sussurro” que não valeria a
pena chamar um táxi, pois o caminho que ele faria vindo de Casablanca até a Veramonte é bem maior e mais demorado
do que o trajeto que faríamos até a vinícola vizinha. Em seguida, nos orientou
a utilizar a saída de serviço da bodega (pela lateral) avançando pelos vinhedos
da Viña Emiliana. Agradecemos aliviados
e felizes (afinal era isso o que queríamos deste o início) e saímos com pressa,
duas mochilas nas costas, um Ritual
Pinot Noir 2013 e um Primus The
Blend 2013. Tínhamos apenas 20 minutos e um longo quartel de Cabernet Sauvignon a percorrer embaixo de
sol antes de nossa próxima enoexperiência.
Em breve
contaremos aqui o resultado desta gincana.
É "mais passeio" ou é
"mais vinho"?
É mais
vinho. Na verdade, não fizemos qualquer passeio e, portanto, não poderíamos
avaliar algo que não conhecemos de fato. A degustação atendeu perfeitamente a nossa
expectativa e necessidade. Agradou-nos bastante a flexibilidade dos
profissionais que nos atenderam, pois acolheram com gentileza nossas “particularidades”
e ajudaram a fazer daquele momento algo realmente especial. É importante deixar
registrado que lamentamos profundamente não ter adquirido uma garrafa do Neyen, mas, naquele momento, pensamos
estar sendo prudentes – considerando o tanto de vinícolas que ainda tínhamos
por visitar... Ao fim daquela viagem mesmo, diríamos que fomos prudentemente
bobos.
¡Salud!
Enocuriosos
*fotografias
de Dagô e Simone.
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