Saímos da Emiliana felizes da
vida e com mais duas missões a cumprir. Nosso primeiro objetivo? Casa Botha - um restaurante italiano em pleno Valle
de Casablanca. O plano era bem simples – seguir pela Ruta 68 à pé até o destino. A execução não seria tão “suave” assim
– uma caminhada de 2,5 quilômetros.
Como não reservamos hora no restaurante e tínhamos tempo de
sobra até o horário da visita na vinícola, poderíamos seguir pela estrada com
tranquilidade e, por isso, tomamos o caminho de saída da Emiliana por entre os vinhedos. Antes que tivéssemos saído da
propriedade, percebemos que um carro estava nos seguindo. Não era um engano –
ele realmente estava em nosso encalço. Era um taxista. Ele queria saber para
onde íamos, pois estava retornando sem passageiros para Valparaíso (a 50
quilômetros de distância) e gostaria de aproveitar para garimpar alguns pesos
chilenos... Agradecemos mas aquele não era o nosso plano. Melhor seguir
caminhando. O taxista era esperto e ofereceu carona grátis até o restaurante. Aceitamos,
sabendo que as “ofertas” não acabariam por ali. Durante a curta viagem o
taxista aproveitou para perguntar qual nosso destino subsequente...
Antes que saíssemos do carro, o taxista fez nova oferta.
Disse ele que estaria disposto a esperar que almoçássemos para nos levar a
nossa próxima parada, por um valor de “n” pesos por quilômetro rodado. A única
condição imposta é que ele não poderia esperar mais do que 45 minutos porque
tinha outro compromisso mais tarde e não poderia se atrasar. Como sabíamos que
nosso próximo percurso não poderia mesmo ser feito sem carro, topamos. Nosso almoço foi
uma correria, mas conseguimos manter o compromisso com o táxi e, o principal, a
comida estava maravilhosa.
O restaurante Casa
Botha foi uma indicação dos proprietários da pousada La Mirage Parador – nosso local de pouso pelos próximos 2 dias. No
restaurante, encontramos um ambiente acolhedor e ricamente decorado (até um
pouco demasiado). O forte da casa é, além do cardápio de massas, uma carta de
vinhos gigantesca – praticamente todas as vinícolas de Casablanca estão
representadas no restaurante e todas as garrafas podem ser adquiridas não só
para consumo local (o dono do restaurante investe “pesado” para que o visitante
leve para casa o melhor e mais especial vinho da região – seja ele qual for).
Nossa expectativa para esta visita estava depositada na possibilidade
(e oportunidade) de provar vinhos produzidos em tinajas (ânforas) e também porque sabíamos que a proposta desta
vinícola é se arriscar na produção de blends pouco usuais. Para quem não sabe,
é importante destacar que a Bodegas RE
é a vinícola que o enólogo Pablo Morandé
criou com seu filho após vender sua participação na Viña Morandé. Todas as informações que encontramos sobre ele
durante nossa pesquisa na internet apontava para um mesmo perfil: um
profissional determinado, inovador, sem medo de arriscar, e que colecionava
sucessos e fracassos sem se que isso fosse suficiente para aplacar sua ânsia
pelo novo, por aquilo que ainda haveria de nascer (ou ser inventado). Bem... O
que mais seria necessário para estimular um par de Enocuriosos?
Chegamos à viña bem
antes do horário combinado (afinal, o taxista tomou conta de nossa agenda...) e
mesmo assim fomos muito bem recebidos e conseguimos antecipar o horário da
visita sem qualquer problema, pois a vinícola estava vazia. Ficamos muito
impressionados com a beleza da loja que expunha, além de vinhos e azeites,
diversos artigos de tecelagem e vestuário produzidos por artesãos do povoado.
Todo mobiliário e artigos de decoração seguem uma linha “armazém antigo”.
Nossa opção de visita foi o Tour Revelación que incluía a visita à parte dos vinhedos, balsamería, sala de licores e o salão de
barricas e ânforas, além, é claro, da degustação de 4 vinhos. Começamos o tour pelo lado externo da propriedade
mas não visitamos o vinhedo tal como esperado (não lembramos o motivo). Nossa
guia explicou que o projeto arquitetônico levou em consideração o movimento do
sol e as correntes de ar para criar um edifício que não necessitasse de
climatização artificial.
Em seguida adentramos em um pequeno galpão onde se encontrava uma
bateria de produção de vinagre balsâmico. A guia explicou como é o processo de
produção (o ciclo completo leva ao menos 12 anos para ser completado) e que eles
estavam reproduzindo um “ciclo encurtado” para que pudesse produzir acetos ao final de 5 anos. Obs.:
Simplificando muito o conceito, é possível dizer que a produção de aceto se dá a partir do mosto da uva cozido
que é transferido do barril maior para o menor ao longo dos anos. Em cada
período de descanso o líquido perde volume, torna-se mais concentrado e adquire
um pouco de sabor da madeira da qual é feita o barril. Por isso o segredo é a
ação do tempo, a variedade das madeiras utilizadas em cada pequeno barril e o
controle do ambiente para que a produção não se deteriore. Encontramos um
pequeno modelo de produção neste link. Para nós foi uma grande
surpresa porque nunca sequer imaginamos como era feito um aceto.
Na sequência, entramos na bodega propriamente dita, um
andar abaixo da loja.
Logo na entrada nos deparamos com uma sequência de tinajas (todas cheias de uvas):
Neste momento a guia explicou um pouco como é
realizado o processo de produção do vinho em ânforas, mas não deu o devido
destaque e detalhamento para atender a nossa curiosidade. Seguimos conhecendo o
espaço da bodega e notamos que, além de não haver tanques de aço inoxidável, a
vinícola se utilizava de estranhos tonéis em forma de moringa (ou seriam tinajas)? O que nos foi informado é que
estes estranhos recipientes são feitos de cimento (e não de argila como a cor
poderia levar a crer) e que se trata de um experimento da vinícola (no caso, o
experimento está relacionado ao formato ovalado e não à aparência externa).
Do outro lado da pequena bodega veem-se os
tradicionais tonéis de madeira e os barris de carvalho. Obs.: notem que os
tonéis utilizam o colmatore (já
comentado em nossa postagem sobre a Vignamaggio).
Terminamos o nosso pequeno tour retornando pelo caminho por onde entramos. Ainda dentro da
bodega há uma mesa e uma bancada para degustações, mas como éramos só nós dois,
fomos conduzidos novamente à loja para fazer a degustação lá mesmo. Na foto
abaixo é possível perceber como a bodega é pequena e, ao mesmo tempo,
aconchegante.
Em nossa degustação provamos 4 vinos: RE Pinotel (Pinot Noir e Moscatel
Rosado), RE Chardonnoir
(Chardonnay e Pinot Noir), RE Cabergnan
(Cabernet Sauvignon e Carignan), Vigno by Viña Roja (100%
Carignan) – acompanhados de queijos, pão, azeitonas e vinagre balsâmico. Para
sermos muito sinceros, é preciso dizer que nenhum dos vinhos provados nos
agradou em cheio com exceção do varietal Carignan (versão da Bodegas RE para o
projeto Vigno - Vignadores de Carignan) – que consideramos o destaque da visita. É importante ressaltar
que, ao buscar maiores informações sobre o que degustamos, descobrimos que
praticamente todos os vinhos da bodega são muito bem pontuados em guias
especializados e por isso cremos que o problema estava conosco e não com o
vinho. Os acompanhamentos cumpriram seu papel e a guia idem, com discrição.
Embora tenhamos achado a loja muito bonita e bem decorada, os preços do
artesanato não eram acessíveis a pessoas com orçamento limitado.
É "mais passeio" ou é
"mais vinho"?
É mais empate
(seria um “vinheio”?). O tour foi
conduzido de maneira um tanto quanto burocrática, pois a guia não se esforçou
em destacar os diferenciais desta vinícola. O fato curioso é que sempre que
conseguimos fazer uma visita a sós com os guias elas são melhores do que se
estivéssemos inseridos em um grupo grande – na Bodegas RE nos pareceu que
ocorreu o contrário (pois acreditamos que se o grupo fosse maior a guia seria
menos “econômica”). Quanto aos vinhos, sentimos certa frustração porque não pudemos
provar o “vinho laranja” EN RE DO (Gewürztraminer
e Riesling) que é uma das estrelas da casa. O vinho não estava incluído em
nossa degustação e para incluí-lo deveríamos comprar a garrafa inteira – um
risco muito alto a correr para quem nunca havia provado este tipo de vinho até
então. Como já dito, os vinhos que degustamos não empolgaram mas isso pode ser
creditado a nossa falta de experiência com o “novo”. Parece que teremos que
retornar...
¡Salud!
Enocuriosos
*fotografias
de Dagô e Simone.
Para
entender melhor o começo desta história no Valle
de Casablanca, veja o relato de nossas visitas à Veramonte e à Emiliana aqui e aqui.
Gostou dessa
postagem? Nossa segunda viagem ao Chile começou aqui.
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