Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte II – Santa Helena – Valle de Colchagua


Idas e Vinhas
Nossa visita à Altaïr (veja aqui) demorou mais do que o previsto, e tivemos que nos dirigir rapidamente à segunda vinícola do dia, a Santa Helena, no Valle de Colchagua. Felizmente, as vinícolas são bastante próximas, e em menos de meia hora estávamos diante da imponente construção estilo colonial desta que é uma das maiores vinícolas chilenas.

O Valle de Colchagua é o território chileno que mais recebe investimentos para plantar parreiras e adegas. Situa-se na zona sul da região da DO Valle de Rapel, na latitude 34ºS. O clima é mediterrâneo, porém mais frio que o de Cachapoal, a região norte do Rapel. No Colchagua as plantações são mais orientais, recebendo, portanto, maior influência marítima. O regime de chuvas é de 450 a 560 mm anuais. A suplementação de água vem do sistema fluvial Tinguiririca-Rapel.

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Clique para ampliar - A Santa Helena é a de nº 4 em San Fernando
Com 23.368 hectares cultivados, só fica atrás do Maule. Desses, mais de 90% são de cepas tintas. O destaque é a Cabernet Sauvignon com cerca de metade de todas as plantações, depois vem a Merlot, a Carmenère, a Syrah e a Malbec.

Para nós a Santa Helena tem um significado muito especial. Embora aqui no Brasil muitos enófilos considerem seus vinhos apenas regulares, foi com ela que começamos a apreciar o mundo do vinho. Tomamos muito dos seus vinhos base (Reserva e Selección del Directorio), que são bons e honestos. E agora que tivemos a oportunidade de conhecer seus vinhos super premium, nossa admiração aumentou. São vinhos realmente excelentes, e de preços muito mais acessíveis que outros rótulos de nível similar.

Em 2012 a vinícola completou 70 anos e é uma das 10 maiores exportadoras do Chile. Segundo a tradição cristã, Santa Helena – também conhecida como Helena de Constantinopla, mãe do imperador Constantino – foi quem descobriu o local de crucificação de Cristo. Foi ela quem, após uma peregrinação pela Palestina, teria ordenado a construção de importantes igrejas, como a da Natividade, em Belém, e a do Santo Sepulcro, em Jerusalé.

Já na tradição grega, Santa Helena é o nome da mulher mais bela do mundo – filha de Zeus, esposa de Menelau, rei de Esparta, também conhecida como Helena de Troia (cuja fuga com Páris deu origem à famosa guerra mitológica). Helena é o símbolo maior da beleza, do encanto.

A Viña Santa Helena (que possui como símbolo a imagem de uma mulher, como se fosse uma deusa) vale-se muito mais da parte grega, apesar do “Santa” no nome, pois, desde o começo sua vocação foi ir para além dos limites do Chile, já que foi fundada como uma cooperativa exportadora em 1942. Não à toa, o VSPT Wine Group (Viña San Pedro Tarapacá) adquiriu-a em 1994, tornando-se a primeira subsidiária do grupo – que conta com outras 10 vinícolas, constituindo a segunda maior holding de vinhos do Chile.

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A vinícola conta com com 334 hectares e o enólogo chefe é o Matías Rivera.

Para celebrar os 70 anos a vinícola resolveu lançar um vinho especial. Contudo, diferentemente de outros que lançam séries limitadas de vinhos caríssimos, a vinícola decidiu abrir um novo campo, algo que não é especialidade do Chile e que tem requerido muito investimento de quem se aventura por aí: produzir espumantes.

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Rivera e sua equipe prepararam o Santa Helena Premium Brut, um Charmat, corte de Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc com uvas que vieram do Valle de Casablanca.

A vinícola
A bodega que visitamos, localizada em San Fernando, sub-região do Valle de Colchagua, vinifica as linhas superiores da Santa Helena (D.o.n., Parras Viejas, Notas de Guarda e Vernus). As outras linhas são produzidas na bodega situada em Curicó.

A beleza da vinícola é ímpar. Da entrada da vinícola até a chegada à adega o percurso é ladeado por rosas de todas as cores e logo à frente está a bonita adega.

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Logo à frente da vinícola está um vinhedo de aproximadamente 30 hectares, com mais de 100 anos - próximo à Cordilheira dos Andes – e, segundo Rívera o terroir é tão excepcional que motivou o lançamento do rótulo Parras Viejas.

Em San Fernando são 80 hectares somente de Cabernet Sauvignon e dentre os quartéis há vinhas velhas plantadas em 1910 e em 1960.

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Foi a primeira vinícola que vimos a irrigação sendo feita por inundação.

A nossa visita foi conduzida pela simpática e experiente Catalina Aubert. Iniciamos a visita com uma breve caminhada pelo vinhedo, enquanto Catalina nos explicava todo o processo de fabricação do vinho, desde o manejo sustentável das parreiras até o envase.

A colheita é iniciada na segunda semana de Abril e todo o processo de vinificação termina em Junho. A maceração acontece em 10 dias e então as leveduras são adicionadas e a fermentação leva entre 10 a 12 dias. A próxima etapa é a 2ª maceração pós fermentativa – apenas para o Don e o Notas de Guarda. Depois o vinho realiza a fermentação malolática em barricas durante 30 a 50 dias. Feito isso o vinho estagia em carvalho por 15 meses e só então é feita a mescla.

Durante a visita à sala dos tanques tivemos a oportunidade de provar uma amostra de Cabernet Sauvignon direto do tanque de inox. O vinho é bastante fresco e frutado mas ainda requer certo acabamento, que será dado pela passagem em barricas de carvalho.
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Feito isso fomos provar outra amostra, diretamente da barrica de carvalho, de um novo projeto de Pinot Noir, e o vinho já mostrava muito bom potencial, bom corpo, aromas agradáveis e as notas características da passagem em madeira.

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A degustação

A degustação foi excepcional, incluindo exemplares dos rótulos premium e superpremium da Santa Helena. O local escolhido não poderia ter sido melhor: a própria sala de barricas, que por sinal é muito bonita.

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Os vinhos que degustamos foram os seguintes:

Bastante fresco e levemente mineral. Muito agradável e fácil de tomar. Com notas de abacaxi, flor de laranjeira e um leve toque de alecrim. Excelente para abrir os trabalhos!

Do latim, significa “relacionado com a primavera”, Vernus é uma homenagem da vinícola aos ciclos naturais da terra, à importância das estações do ano, a magia de nascer, renascer e se renovar.
Mescla de Malbec 90% e Petit Verdot 10%. Estagia por 12 meses em barricas de carvalho de 2º uso.
Bastante aromático, na boca é adocicado, mas não enjoativo, e fino. Final bastante agradável.

Carmenère 85%, Syrah 7%, Petit Verdot 5% e Malbec 3%.
Sou apreciador de Carmenère e ,este para mim, entrou para a lista dos melhores chilenos.
Bastante concentrado, as notas picantes do pimentão e da pimenta do reino estão evidentes, além de um leve toque de canela e tostado.
À medida que avançamos nessa viagem, percebemos que o enólogo conseguiu produzir um vinho que representa à perfeição o que se pode chamar de Carmenère do Chile.

As vinhas foram plantadas em 1910 e o seu rendimento é muito baixo, dando origem a vinhos concentrados e aromáticos.
O vinho passa por 14 meses em barricas francesas de 2º uso.
Vinho equilibrado tanto na acidez quanto nos taninos. De final longo e adocicado. Com certeza um exuberante exemplar de Cabernet Sauvignon.

O D.o.n. (De Orígen Noble) é uma mescla de Cabernet Sauvignon 80%, Petit Verdot 15% e Syrah 5%.
Ícone da vinícola. Estagia durante 15 meses em barricas novas de carvalho francês 70% e 30% segundo uso.
Vinho potente e complexo. Ao agitar a taça sobressaem os aromas das frutas vermelhas e negras maduras e concentradas, algumas notas florais e de especiarias e um leve mentolado e tostado da madeira.
Na boca mostra o equiilíbrio entre taninos redondos e acidez e os seus 14,5% de álcool estão perfeitos. Excelente vinho de guarda.

Vernus Malbec 2009 e Vernus Sauvignon Blanc 2012
D.o.n. 2009 / Notas De Guarda Carmenère 2011 e Parras Viejas Cabernet Sauvignon 2010
E assim encerramos uma das visitas que consideramos um dos ponto altos da viagem. Seguimos então para o almoço na Casa Silva, há apenas alguns minutos de distância.

Hoje, 20 de Outubro de 2013 abrimos o Notas de Guarda que adquirimos na vinícola. Leiam aqui o post.

Literaturas consultadas para este post:
Os Segredos do Vinho
Adega

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