Nossa
visita à Altaïr (veja aqui) demorou mais do que o previsto, e tivemos que nos dirigir
rapidamente à segunda vinícola do dia, a Santa Helena, no Valle de Colchagua.
Felizmente, as vinícolas são bastante próximas, e em menos de meia hora
estávamos diante da imponente construção estilo colonial desta que é uma das
maiores vinícolas chilenas.
O
Valle de Colchagua é o território chileno que mais recebe investimentos para
plantar parreiras e adegas. Situa-se na zona sul da região da DO Valle de
Rapel, na latitude 34ºS. O clima é mediterrâneo, porém mais frio que o de
Cachapoal, a região norte do Rapel. No Colchagua as plantações são mais orientais, recebendo,
portanto, maior influência marítima. O regime de chuvas é de 450 a 560 mm
anuais. A suplementação de água vem do sistema fluvial Tinguiririca-Rapel.
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Clique para ampliar - A Santa Helena é a de nº 4 em San Fernando |
Para
nós a Santa Helena tem um significado muito especial. Embora aqui no Brasil
muitos enófilos considerem seus vinhos apenas regulares, foi com ela que
começamos a apreciar o mundo do vinho. Tomamos muito dos seus vinhos base
(Reserva e Selección del Directorio), que são bons e honestos. E agora que
tivemos a oportunidade de conhecer seus vinhos super premium, nossa admiração
aumentou. São vinhos realmente excelentes, e de preços muito mais acessíveis
que outros rótulos de nível similar.
Em
2012 a vinícola completou 70 anos e é uma das 10 maiores exportadoras do Chile.
Segundo a tradição cristã, Santa Helena – também conhecida como Helena de
Constantinopla, mãe do imperador Constantino – foi quem descobriu o local de
crucificação de Cristo. Foi ela quem, após uma peregrinação pela Palestina,
teria ordenado a construção de importantes igrejas, como a da Natividade, em
Belém, e a do Santo Sepulcro, em Jerusalé.
Já
na tradição grega, Santa Helena é o nome da mulher mais bela do mundo – filha de
Zeus, esposa de Menelau, rei de Esparta, também conhecida como Helena de Troia
(cuja fuga com Páris deu origem à famosa guerra mitológica). Helena é o símbolo
maior da beleza, do encanto.
A
Viña Santa Helena (que possui como símbolo a imagem de uma mulher, como se
fosse uma deusa) vale-se muito mais da parte grega, apesar do “Santa” no nome,
pois, desde o começo sua vocação foi ir para além dos limites do Chile, já que
foi fundada como uma cooperativa exportadora em 1942. Não à toa, o VSPT Wine
Group (Viña San Pedro Tarapacá) adquiriu-a em 1994, tornando-se a primeira
subsidiária do grupo – que conta com outras 10 vinícolas, constituindo a
segunda maior holding de vinhos do Chile.
A
vinícola conta com com 334 hectares e o enólogo chefe é o Matías Rivera.
Para
celebrar os 70 anos a vinícola resolveu lançar um vinho especial. Contudo,
diferentemente de outros que lançam séries limitadas de vinhos caríssimos, a
vinícola decidiu abrir um novo campo, algo que não é especialidade do Chile e
que tem requerido muito investimento de quem se aventura por aí: produzir
espumantes.
Rivera
e sua equipe prepararam o Santa Helena Premium Brut, um Charmat, corte de Pinot
Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc com uvas que vieram do Valle de Casablanca.
A vinícola
A
bodega que visitamos, localizada em San Fernando, sub-região do Valle de Colchagua,
vinifica as linhas superiores da Santa Helena (D.o.n., Parras Viejas, Notas de
Guarda e Vernus). As outras linhas são produzidas na bodega situada em Curicó.
A
beleza da vinícola é ímpar. Da entrada da vinícola até a chegada à adega o percurso
é ladeado por rosas de todas as cores e logo à frente está a bonita adega.
Logo à frente da vinícola está um vinhedo de aproximadamente 30 hectares, com mais de 100 anos - próximo à Cordilheira dos Andes – e, segundo Rívera o terroir é tão excepcional que motivou o lançamento do rótulo Parras Viejas.
Em
San Fernando são 80 hectares somente de Cabernet Sauvignon e dentre os quartéis
há vinhas velhas plantadas em 1910 e em 1960.
A
nossa visita foi conduzida pela simpática e experiente Catalina Aubert. Iniciamos
a visita com uma breve caminhada pelo vinhedo, enquanto Catalina nos explicava todo
o processo de fabricação do vinho, desde o manejo sustentável das parreiras até
o envase.
A
colheita é iniciada na segunda semana de Abril e todo o processo de vinificação
termina em Junho. A maceração acontece em 10 dias e então as leveduras são
adicionadas e a fermentação leva entre 10 a 12 dias. A próxima etapa é a 2ª
maceração pós fermentativa – apenas para o Don e o Notas de Guarda. Depois o
vinho realiza a fermentação malolática em barricas durante 30 a 50 dias. Feito
isso o vinho estagia em carvalho por 15 meses e só então é feita a mescla.
Durante
a visita à sala dos tanques tivemos a oportunidade de provar uma amostra de
Cabernet Sauvignon direto do tanque de inox. O vinho é bastante fresco e
frutado mas ainda requer certo acabamento, que será dado pela passagem em
barricas de carvalho.
Feito
isso fomos provar outra amostra, diretamente da barrica de carvalho, de um novo
projeto de Pinot Noir, e o vinho já mostrava muito bom potencial, bom corpo,
aromas agradáveis e as notas características da passagem em madeira.
A degustação
A
degustação foi excepcional, incluindo exemplares dos rótulos premium e
superpremium da Santa Helena. O local escolhido não poderia ter sido melhor: a
própria sala de barricas, que por sinal é muito bonita.
Os
vinhos que degustamos foram os seguintes:
Bastante
fresco e levemente mineral. Muito agradável e fácil de tomar. Com notas de abacaxi,
flor de laranjeira e um leve toque de alecrim. Excelente para abrir os
trabalhos!
Do
latim, significa “relacionado com a primavera”, Vernus é uma homenagem da
vinícola aos ciclos naturais da terra, à importância das estações do ano, a
magia de nascer, renascer e se renovar.
Mescla
de Malbec 90% e Petit Verdot 10%. Estagia por 12 meses em barricas de carvalho
de 2º uso.
Bastante
aromático, na boca é adocicado, mas não enjoativo, e fino. Final bastante
agradável.
Carmenère
85%, Syrah 7%, Petit Verdot 5% e Malbec 3%.
Sou
apreciador de Carmenère e ,este para mim, entrou para a lista dos melhores
chilenos.
Bastante
concentrado, as notas picantes do pimentão e da pimenta do reino estão
evidentes, além de um leve toque de canela e tostado.
À
medida que avançamos nessa viagem, percebemos que o enólogo conseguiu produzir
um vinho que representa à perfeição o que se pode chamar de Carmenère do Chile.
As
vinhas foram plantadas em 1910 e o seu rendimento é muito baixo, dando origem a
vinhos concentrados e aromáticos.
O
vinho passa por 14 meses em barricas francesas de 2º uso.
Vinho
equilibrado tanto na acidez quanto nos taninos. De final longo e adocicado. Com
certeza um exuberante exemplar de Cabernet Sauvignon.
O
D.o.n. (De Orígen Noble) é uma mescla de Cabernet Sauvignon 80%, Petit Verdot
15% e Syrah 5%.
Ícone
da vinícola. Estagia durante 15 meses em barricas novas de carvalho francês 70%
e 30% segundo uso.
Vinho
potente e complexo. Ao agitar a taça sobressaem os aromas das frutas vermelhas
e negras maduras e concentradas, algumas notas florais e de especiarias e um
leve mentolado e tostado da madeira.
Na
boca mostra o equiilíbrio entre taninos redondos e acidez e os seus 14,5% de
álcool estão perfeitos. Excelente vinho de guarda.
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Vernus Malbec 2009 e Vernus Sauvignon Blanc 2012 |
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D.o.n. 2009 / Notas De Guarda Carmenère 2011 e Parras Viejas Cabernet Sauvignon 2010 |
E
assim encerramos uma das visitas que consideramos um dos ponto altos da viagem.
Seguimos então para o almoço na Casa Silva, há apenas alguns minutos de
distância.
Hoje, 20 de Outubro de 2013 abrimos o Notas de Guarda que adquirimos na vinícola. Leiam aqui o post.
Literaturas
consultadas para este post:
Os
Segredos do Vinho
Adega
Wines
of Chile
Acompanhe a nossa maratona abaixo:
Idas e Vinhas na estrada - Roteiro completo da Volta ao Chile
Idas e Vinhas na estrada – 10/12/2012 - Viña von Siebenthal – Valle de Aconcagua
Idas e Vinhas na estrada – 10/12/2012 parte II - Viña Errazuriz – Valle de Aconcagua
Idas e Vinhas na Estrada – 11/12/2012 parte I – Casa Marín – Valle de San Antonio
Idas e Vinhas na Estrada – 11/12/2012 parte II – Matetic – Valle de San Antonio
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte I – Altaïr – Valle de Cachapoal
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte III – Almoço Casa Silva – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte IV – Viña VIK – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte I – Viña Montes – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte II – Casa Lapostolle – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte III – Neyen – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte I – Viña Aquitania – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte II – Viña Almaviva – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte III – Antiyal – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 15/12/2012 parte I – Viña Veramonte – Valle de Casablanca
Idas e Vinhas na Estrada – 15/12/2012 parte II – Viña Loma Larga – Valle de Casablanca
Idas e Vinhas na estrada – 10/12/2012 - Viña von Siebenthal – Valle de Aconcagua
Idas e Vinhas na estrada – 10/12/2012 parte II - Viña Errazuriz – Valle de Aconcagua
Idas e Vinhas na Estrada – 11/12/2012 parte I – Casa Marín – Valle de San Antonio
Idas e Vinhas na Estrada – 11/12/2012 parte II – Matetic – Valle de San Antonio
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte I – Altaïr – Valle de Cachapoal
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte III – Almoço Casa Silva – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 12/12/2012 parte IV – Viña VIK – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte I – Viña Montes – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte II – Casa Lapostolle – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 13/12/2012 parte III – Neyen – Valle de Colchagua
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte I – Viña Aquitania – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte II – Viña Almaviva – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte III – Antiyal – Valle del Maipo
Idas e Vinhas na Estrada – 15/12/2012 parte I – Viña Veramonte – Valle de Casablanca
Idas e Vinhas na Estrada – 15/12/2012 parte II – Viña Loma Larga – Valle de Casablanca
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