Idas e Vinhas na Estrada – 14/12/2012 parte III – Antiyal – Valle del Maipo



Após o almoço na Villa Virginia (veja aqui ao final do texto), pegamos a estrada a caminho da Antiyal.

A Antiyal é o que podemos chamar de vinícola de garagem. Ela surgiu em 1996 quando o enólogo Álvaro Espinoza e a sua esposa Marina Ashton adquiriram o seu primeiro hectare de vinhedos. Foi o ponto de partida para sua história de sucesso.


Podemos afirmar que o Álvaro Espinoza é a referência da arte da vitivinicultura orgânica e biodinâmica do Chile. Segundo Álvaro, “O vinho é o reflexo do seu terroir, tem que ser fiel ao solo, ao clima e altitude. A natureza sabe o que faz!”.

Álvaro possui um currículo invejável. A “Wine & Spirits” o considera um dos 50 vinhateiros mais influentes do mundo. Em 1986 trabalhou com o enólogo Felipe de Solminihac (hoje proprietário da Aquitania. Confira o post aqui) na Viña Undurraga. Depois passou 2 anos estudando enologia em Bordeaux onde trabalhava no Château Margaux e também na Moët Chandon. Voltou ao Chile, onde trabalhou na Oriental Domaine (1989 e 1992) e depois na Viña Carmen onde ficou até 2000. Atualmente é consultor na área da biodinâmica em grandes vinícolas como a Matetic e a Emiliana, e ainda assim consegue tempo para dar atenção à sua vinícola e produzir grandes vinhos. A sua primeira safra foi 1998, lançada em 2000.

Os seus vinhos são bem conceituados e recebem altas notas dos críticos especializados. Isso faz com que eles desapareçam facilmente do mercado, pois sua produção é limitada. A produção anual gira em torno de 27000 garrafas dos seus 3 vinhos: os blends Kuyen e Antiyal (do qual são produzidas apenas 4 a 5 mil garrafas) e o Antiyal Carmenère. Não há primeiros e segundos vinhos, cada um é um projeto independente.

A ligação da família com as raízes chilenas é evidente. O nome Antiyal significa “filhos do sol”, e Kuyen significa “Lua” na língua Mapuche.

A vinícola
Alguns anos mais tarde Álvaro e Marina adquiriram mais 7 hectares em uma área próxima. 4 hectares são de vinhedos e também é nessa nova parcela onde foi construída a nova bodega. Como não poderia deixar de ser, a Antiyal adota as técnicas de cultivo orgânico e biodinâmico em 100% dos seus vinhedos. Segundo Álvaro, as videiras cultivadas dessa forma produzem menos que o método considerado “tradicional”, o que pode elevar o custo de produção em cerca de 20 a 25%. O desafio, segundo ele, é produzir vinhos de alta qualidade e que sejam competitivos.

A visita
Ao chegarmos à Antiyal, Marina já estava à nossa espera. Iniciamos com uma caminhada pela propriedade, aprendendo sobre a história da vinícola e a maneira como são manejados os vinhedos.

Idas e Vinhas


Como a área é relativamente pequena, foi possível ver de perto a separação entre as parcelas, os chamados corredores biológicos.

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A água para irrigação é obtida com o auxílio de um poço que alcança 60m de profundidade. A busca pela sustentabilidade é levada a sério, e o projeto de instalação de painéis solares para geração de energia estava quase terminado.

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Logo em seguida chegou Álvaro, que nos mostrou o local aonde são preparados e guardados os compostos biodinâmicos, explicando a utilização de cada um.

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Em seguida fomos conhecer a bodega e ouvimos um pouco sobre as etapas de fabricação de cada um de seus vinhos. O Carmenère, por exemplo, é envelhecido nas “cubas ovo” de 650 litros cada, onde descansam por um ano. Antiyal e Kuyen ficam por 12 meses em barricas. O Antiyal permanece ainda 6 meses em garrafa antes de ser lançado no mercado.

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A degustação
Em seguida, nos dirigimos à outra propriedade (onde a Antiyal começou) para a degustação. A antiga moradia da família foi transformada em um “Bed & Breakfast” muito charmoso.

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É nesse local onde ficam a adega com os vinhos já engarrafados e a horta onde são cultivados os ingredientes dos preparados biodinâmicos, além de uma parcela de videiras.

Essa degustação foi talvez a experiência mais pessoal dessa viagem. A simpatia e a simplicidade de Alvaro e Marina fizeram com que nos sentíssemos acolhidos. Responderam a todas as nossas perguntas, sem nenhuma pressa. O amor que sentem pela terra e pelo projeto Antiyal fica evidente no entusiasmo com que discutem o tema. É um projeto familiar, onde os dois filhos do casal também ajudam.

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Vamos aos vinhos?

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Kuyen 2010
Blend com 57% Syrah, 28% Cabernet Sauvignon, 13% Carmenère e 2% Petit Verdot.

De bela cor rubi escuro, possui aromas intensos de frutas vermelhas escuras (frescas e também em calda), além de especiarias (pimenta do reino, tomilho) e um toque de chocolate. No palato é potente, as frutas são confirmadas, é estruturado e equilibrado, com boa acidez e taninos presentes. De final médio.

Antiyal 2010
Blend com 47% Carmenère, 24% Syrah, e 29% Cabernet Sauvignon.

Cor rubi muito escuro, o Antiyal é encorpado e apresentou uma grande variedade de aromas. Ameixas, cassis, violetas, um certo tostado, café e chocolate. Em boca é frutado, profundo, denso e os taninos são macios, boa acidez e final longo e agradável.

E depois dessa tarde incrível, tomamos o caminho de volta a Santiago.

Muito obrigado, Álvaro e Marina, pela atenção que nos deram. Sucesso, sempre!

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